27 de janeiro de 2015

A importância da bíblia para Doutrina espírita

A Importância da Bíblia para a Doutrina Espírita Astrid Sayegh Filósofa, é Diretora de Cursos Básicos da Federação Espírita do Estado de São Paulo A Humanidade já foi contemplada com três revelações. A primeira, quando da vinda de Moisés. Nela, o monoteísmo tomou forma e Deus foi apresentado como o único Deus verdadeiro, em oposição ao politeísmo. Na segunda, quando do advento de Jesus Cristo, foi Deus apresentado como Pai de infinita misericórdia e amor, substituindo o Jeová dos Exércitos, temível e justiceiro. A terceira revelação surge com o advento do Espiritismo, cuja finalidade básica é restabelecer em princípios as primícias dos ensinamentos de Jesus Cristo. A História conta que, no decorrer dos séculos que sucederam o advento do Cristo, houve numerosas tentativas no sentido de comprovar a realidade dos Espíritos e sua manifestação no plano material. É inegável que algumas chegaram a ser revelada. Contudo, com maior amplitude, isso se tornou possível apenas no século 19, quando os homens estavam mais preparados para uma nova revelação. Um sopro de vida nova parecia agitar o planeta nesse momento de efervescência intelectual, onde as ciências tomavam grande impulso, onde tudo era revelado à luz natural da razão. Surge assim a Doutrina Espírita, marcando a passagem das religiões formais para uma filosofia racionalista. Trata-se, portanto, não de uma negação do passado histórico, mas constitui antes uma síntese dialética de todo o processo da história do pensamento, colimando sempre uma busca de racionalização das concepções fideístas dogmáticas. Seu esforço, portanto, consiste em trazer a religião do domínio mítico para o plano cultural. Pode-se afiançar que os primeiros precursores do Espiritismo foram os famosos médiuns Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis. Muitos fenômenos marcaram o início da Doutrina Espírita, atraindo a atenção de numerosos sábios de renome mundial. Surgiu, então, no cenário do mundo a figura exponencial de Allan Kardec que buscou estudar e fundamentar cientificamente esses fenômenos, assim como organizar de forma sistemática e metódica os ensinamentos revelados pelos Espíritos. Conseguiu assim lançar o arcabouço de uma nova doutrina, dando à publicidade O Livro dos Espíritos, em 1857, contendo os fundamentos filosóficos da Doutrina. Em seguida publicou O Livro dos Médiuns, em 1861, contendo a parte científica das relações do plano espiritual com o mundo material, e por último O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864, contendo a parte religiosa e essencial da Doutrina. É assim que a Doutrina Espírita possui um aspecto tríplice. Ela consiste em uma Ciência que tem por objeto os fenômenos; uma Filosofia que tem por objeto as causas primárias do Universo, a natureza dos Espíritos e as Leis Morais; e em uma Religião que tem por objeto resgatar a essência dos ensinamentos cristãos. Sob esse aspecto o Espiritismo diferencia-se das demais religiões, pelo fato de não possuir nenhuma formalidade ou culto exterior, mas a religiosidade deve dar-se na intimidade do próprio indivíduo, através da prece e da doação de si. O que interessa não é a exterioridade dos ritos e do culto convencional, por vezes precários, mas sim o pensamento e o sentimento do homem. Há uma seqüência histórica que não se pode esquecer ao tomar a Bíblia nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, surgiu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traçar as linhas de um novo mundo, e de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando esse povo já se dispersava por todo o mundo gentio espalhando a nova lei, apareceu Jesus e, de suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho. A Bíblia é a codificação da primeira revelação, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. É a grande síntese dos esforços da antiguidade em direção ao espírito. O Evangelho é a codificação da segunda revelação, a que brilha do centro da tríade dessas revelações, tendo na figura de Cristo o sol que lança sua luz sobre o passado e o futuro. Mas assim como na Bíblia (Antigo Testamento), já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito da Verdade: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores de acordo com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Enganam-se os que pensam que a codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo são abordados textos desde os decálogos de Moisés e essencialmente os ensinamentos de Jesus em sua maioria até as cartas de Paulo, de forma didática e esclarecedora. São estudadas as Leis Morais tratando-se especificamente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como das questões religiosas acerca da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte o leitor encontrará inclusive as primeiras formas de instruções dos Espíritos, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas. Assim sendo, o Espiritismo tem como base as escrituras, tem seus fundamentos na Bíblia. A essência de sua doutrina é o Evangelho, a religiosidade. Trata-se, portanto, de uma religião positiva, baseada nas leis naturais, destituída de aparatos misteriosos e de conotação mítica ou mística. Trata-se, ainda, de uma religião dinâmica, pois coloca a prática da caridade acima de qualquer virtude (I Cor 13:1). Sem dúvida, a prática da caridade guarda íntima relação com os princípios universais de Jesus Cristo, ao sintetizar o Decálogo neste mandamento maior: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22:34). Ser cristão não é um rótulo, mas uma vivência (Mt 7:21), é imprescindível que o homem se revele pelas suas obras: a fé sem obras é morta. Com relação à fenomenologia mediúnica, a Doutrina Espírita não aceita o milagre ou o sobrenatural, mas explica tudo à luz da naturalidade. O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o Apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade de comunicações mediúnicas. Veja-se as palavras do Rei Samuel, em Provérbios 31:1-9, que, segundo o texto bíblico são "a profecia com que lhe ensinou sua mãe". Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia. É importante distinguir o fato de que os estudos bíblicos se processam em duas direções diversas: há o estudo normativo das instituições religiosas, legados a várias igrejas e que seguem as regras da hermenêutica; há o estudo livre dos institutos universitários independentes, que seguem os princípios da pesquisa científica e da interpretação histórica. O Espiritismo não se prende a nenhum dos dois sistemas, pois sua posição é intermediária. Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo estuda à luz dos seus princípios em harmonia com os métodos da antropologia natural e dos estudos históricos. Segundo afirmação de Jesus em João, capítulo 10 "eu e o Pai somos um". Desta forma todos os homens possuem uma unidade essencial. Daí a importância de viver uma religião unitária em essência e verdade - o ecumenismo - apesar da variedade das formas em que se expressam. Fim

Estudos biblicos

Estudos Bíblicos O que é a Bíblia? Índice Introdução Considerações Gerais / 02 Origem de alguns termos importantes utilizados / 03 Estrutura da Bíblia / 04 História / 05 As traduções - Septuaginta: Versão dos Setenta / 08 Vulgata Latina / 09 A Bíblia em Português / 10 Traduções parciais Traduções completas A Bíblia no Brasil / 12 Traduções parciais Traduções completas Antigo Testamento / 14 História do povo hebreu - Personagens mais importantes / 15 Bibliografia / 19 Introdução Considerações Gerais A Bíblia é o livro que mais influência exerceu e tem exercido em toda a história da Humanidade. É o mais importante compêndio de que o homem dispõe para compreender sua história e o plano divino do Criador para com suas criaturas. Por não entender o valor dessa obra e tudo o que ela representa, o homem tem trilhado caminhos tortuosos em busca de filosofias de vida. Geralmente, doutrinas que não se sustentam no tempo, porque não são alicerçadas na Verdade. As Escrituras Sagradas têm este nome por conterem os escritos da Lei de Deus, trazidos ao mundo em diversas épocas, de acordo com o nível de compreensão dos seres humanos. Por ignorância, ao longo dos séculos, foi tida como obra absoluta e incontestável do Pai. Faltou aos seus filhos a maturidade suficiente, e conhecimentos que pudessem ajudá-los a separar desses ensinamentos, as instruções divinas dos eventos meramente humanos nas narrativas. A Bíblia pode ser considerada uma coleção de livros reunidos em um grande volume. Mas não é como qualquer outro livro, pois os ensinos contidos nele transcendem e posicionam-se acima de qualquer outro existente no mundo. É considerada sagrada porque seu conteúdo propõe-se a tornar os homens puros, santos, livres de seus erros. Origem de alguns termos importantes utilizados Bíblia - A palavra bíblia vem do grego biblos, que era a casca de um papiro do século XI a.C., utilizado para anotar os escritos. A palavra latina Bíblia, no entanto, só foi utilizada depois do século II d.C. Testamento Palavra traduzida por aliança. É a tradução de palavras hebraicas e gregas que significam pacto ou acordo celebrado entre duas partes. Antigo Testamento - Aliança entre Deus e seu povo (os judeus), iniciado com o patriarca Abraão e simbolizada pela circuncisão. Foi escrito pela comunidade judaica e por ela preservado por um milênio ou mais antes da era de Jesus. Novo Testamento - A nova aliança entre Deus e os cristãos e que se estenderá por toda a Humanidade, simbolizada pela vinda de Jesus, o Cristo e o cumprimento de sua promessa de transformar a Terra no Reino de Deus. Foi composto pelos discípulos de Jesus, ao longo do século I d.C. Estrutura da Bíblia A Bíblia é um conjunto de livros considerados sacros, que se divide em Velho e Novo Testamento. Estudiosos das Escrituras afirmam que se trata de uma história ligada estritamente ao povo hebreu. Mas, existem diversos trechos dos textos antigos, principalmente no Novo Testamento, nos quais o Espírito Divino dirige-se à humanidade como um todo, procurando orientá-la moralmente e dizendo-lhe que haverá um tempo em que a luz divina estará presente em todo o planeta, trazendo uma época de prosperidade a todas as gentes. O estudioso cristão deve estudar as Escrituras, procurando conhecê-la em profundidade, pois ela o ajudará a compreender o sentido da existência do homem e as dificuldades da implantação dos ideais cristãos na face do planeta. História O Antigo Testamento contém a história do povo hebreu e foi escrito durante um período de mais de mil anos, até aproximadamente o final do século III a.C. O processo de criação foi complexo porque grande parte do material já era recitado ou cantado bem antes de ter sido escrito. Todo o texto foi codificado em hebraico, com exceção de alguns capítulos dos livros de Daniel e Esdras e algumas palavras no Gênesis e Jeremias, onde se empregou o aramaico, língua muito semelhante ao hebraico. Como tesouro cultural, o Antigo Testamento é uma das fontes mais importantes que temos para o conhecimento do passado. Outras civilizações, como a egípcia e a babilônica, produziram também seus escritos religiosos e históricos, mas apenas os hebreus os reuniram em uma antologia sagrada. O resultado foi um épico religioso tão respeitado, que atravessou séculos e chegou aos nossos dias ainda sendo estudado e analisado por religiosos, historiadores e estudiosos do pensamento humano. O cânon do Antigo Testamento se completou por volta de 400 a. C. Ficou conhecido como "a Lei e os Profetas", por conter os cinco livros de Moisés e os dezessete profetas que sucederam a ele. A sucessão dos profetas encerrou-se com Malaquias. Os chamados "Escritos" surgiram no período intertestamentário e foram incluídos no texto bíblico por ocasião da tradução grega. O cânon do Novo Testamento foi formado de maneira diferente, visto que não se tratava de uma mensagem restrita a um povo, mas a toda a humanidade. Logo no primeiro século os escritos foram sendo reproduzidos e a prática de ler em voz alta nas reuniões, facilitou ao povo a assimilação dos ensinos e o reconhecimento da história de Jesus. Desde o início os primeiros cristãos coligiram e preservaram os livros inspirados do Novo Testamento. Tais livros sem dúvida alguma foram copiados e circularam entre as igrejas primitivas. No entanto, há evidências de que no seio dos núcleos do século I havia um processo seletivo em operação. Toda e qualquer palavra a respeito do Cristo, fosse oral ou escrita, era submetida ao ensino apostólico, dotado de toda autoridade. Se tal palavra ou obra não pudesse ser comprovada pelas testemunhas oculares era rejeitada. Assim o cânon vivo dessas testemunhas tornou-se o critério mediante o qual os escritos canônicos primitivos vieram a ser reconhecidos, pois eram os ensinos dos apóstolos. Santo Agostinho foi quem traduziu com precisão o sentido unificador dos dois documentos nas seguintes palavras: "O Novo Testamento acha-se velado no Antigo Testamento e o Antigo, revelado no Novo". A Bíblia tem o Cristo, ou seja, a mensagem de Deus aos homens, como centro e razão dos escritos sagrados. Divide-se a Bíblia em 8 partes: Antigo Testamento: - Lei Fundamento da chegada de Cristo - História Preparação para a chegada de Cristo - Poesia Anelo para a chegada de Cristo - Profecia Certeza da chegada de Cristo Novo Testamento: - Evangelhos Manifestação de Cristo - Atos Propagação de Cristo - Epístolas Interpretação e aplicação de Cristo - Apocalipse Consumação em Cristo A Bíblia divide-se em oito seções, sendo quatro do Antigo e quatro do Novo Testamento: Antigo Testamento: A Lei - 5 livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio) História - 12 livros (Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias, Ester) Poesia - 5 livros (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos cânticos) Profetas - Maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel) e Menores (Oséas, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) Novo Testamento: Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João História - Atos dos Apóstolos Doutrina (Cartas e Epístolas) - Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João, Judas. Profecias - Apocalipse As traduções - Septuaginta: Versão dos Setenta Foi a primeira tradução dos escritos do Antigo Testamento hebraico para o grego, produzida em Alexandria, no século III a.C., a pedido de um dos reis macedônicos do Antigo Egito, Ptolomeu II Filadelfo. Durante o seu reinado, os judeus receberam privilégios políticos e religiosos totais. Também foi durante esse tempo que o Egito passou por um grande programa cultural e educacional, sob o patrocínio de Arsínoe, esposa e irmã de Ptolomeu II. Nesse programa inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para o grego. A Septuaginta tomou esse nome pelo fato de ter sido realizada por 70 anciões, trazidos de Jerusalém exclusivamente para a tarefa. Foi rechaçada pelos judeus ortodoxos, numa atitude semelhante ao católicos da Idade Média, diante do reformador protestante Martim Lutero, que traduziu a Bíblia para o alemão, tornando-a acessível ao povo. A idéia era a mesma: Ampliar o conhecimento do Antigo Testamento para a língua grega, para atingir outros judeus alexandrinos, mas os radicais viram este trabalho como uma profanação. A Septuaginta incluía não apenas o cânon hebraico, mas também outras obras judaicas, em sua maior parte escritas nos séculos II e I a.C., em hebraico, aramaico e grego. Esses escritos, mais tarde, vieram a ser conhecidos como os Apócrifos, palavra grega que significa oculto ou ilegítimo. Os judeus consideravam esses livros como não inspirados. Os denominados Apócrifos são 15 livros judaicos, surgidos no período intertestamentário. São eles: 1 e 2 Esdras, Tobias, Judite, Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Baruc, Epístola de Jeremias, Prece de Azarias e Cântico dos Três Jovens, Suzana, Bel e o Dragão, A Prece de Manassés, 1 e 2 Macabeus. A Septuaginta serviu de fundo às traduções para o latim a para as outras línguas. Tornou-se também uma espécie de ponte religiosa colocada sobre o abismo existente entre os judeus (de língua hebraica) e os demais povos (de língua grega). O Antigo Testamento da LXX foi o texto utilizado em geral na primitiva igreja cristã. Vulgata Latina Esta é a tradução dos escritos do Antigo e do Novo Testamento para ao latim, realizada por Sofrônio Eusébio Jerônimo (São Jerônimo), no século IV d.C, a pedido de Dâmaso, bispo de Roma. Depois da Septuaginta, foi a primeira vez que os escritos foram ordenados de forma a tomar um corpo de doutrina. Foi o mais importante trabalho de codificação dos Escritos Sagrados, pois é o que se utiliza até hoje como detentor de autenticidade e credibilidade. Na época havia numerosos textos que compunham o Novo Testamento, também chamado Antiga Latina, que apareceram ao redor da segunda metade do século IV e que induziram os cristãos a uma situação religiosa intolerável, o que levou o bispo de Roma (366-384) a providenciar a revisão. O resultado desse grande esforço chama-se Vulgata Latina. A tradução de Jerônimo sofreu muitas críticas e ataques dos ortodoxos, principalmente de Santo Agostinho, um dos Pais da Igreja, que só mais tarde reconheceu o valor do documento. São Jerônimo passou 38 anos de sua vida dedicados ao exame das Escrituras Sagradas. Nos séculos seguintes, a Vulgata passou a ser a edição predominante da Bíblia e assim foi por toda a Idade Média. Também serviu de base para a maioria dos tradutores da Bíblia, anteriores ao século XIX. A Bíblia em Português Traduções parciais A primeira tradução dos escritos para a língua portuguesa foi realizada por D. Diniz, rei de Portugal (1279 1325). Grande conhecedor do latim clássico e leitor da Vulgata Latina, o rei resolveu traduzir as Sagradas Escrituras para o português. Porém, faltou-lhe perseverança e só conseguiu traduzir os vinte primeiros capítulos de Gênesis. Entretanto, esse esforço o coloca em posição de destaque, historicamente, pois foi um dos primeiros tradutores dos escritos para outros idiomas, antecedendo inclusive a John Wycliffe, que só em 1380 traduziu as Escrituras para o inglês. D. João I (1325 1433) fez vários padres traduzir da Vulgata, Os Evangelhos, os Atos e as Epístolas de Paulo. Ele mesmo traduziu o livros de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo Testamento, traduzidos pelos padres. Os livros eram produzidos em forma manuscrita fazendo-se uso de folhas de pergaminho, o que tornava sua circulação extremamente reduzida e cara. Outras figuras da monarquia de Portugal realizaram traduções parciais da Bíblia. A infanta d. Filipa, neta do rei d. João I, traduziu os Evangelhos do francês. No século XV, surgiu em Lisboa o Evangelho de Mateus e trechos de outros evangelistas, trabalho realizado por frei Bernardo de Alcobaça, que pertenceu à grande escola de tradutores portugueses da Real Abadia de Alcobaça. A primeira tradução mais harmônica dos Evangelhos em língua portuguesa, foi preparada em 1495 pelo cronista Valetim Fernandes e intitulou-se De Vita Christi. Todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos, implacável perseguição da Igreja Católica, que amaldiçoou todos os que conservassem consigo traduções bíblicas em "idioma vulgar". Traduções completas João Ferreira de Almeida - Coube a esse homem a tarefa de traduzir para o idioma português, pela primeira vez, o Velho e o Novo Testamento. Nascido em 1628, em Portugal (Torres de Tavares), mudou-se para a Ásia aos 12 anos. Após 2 anos na ilha de Java, Indonésia, Almeida mudou-se para Málaca, na Malásia e lá converteu-se do catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte, começou a pregar o Evangelho no Ceilão (hoje Sri Lanka). Ainda não tinha 17 anos, quando iniciou o seu trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas perdeu seu manuscrito, reiniciando apenas aos 20 anos. Conhecedor do hebraico e do grego, realizou seu trabalho utilizando, além da Vulgata Latina, o Textus receptus do grupo bizantino e as traduções holandesa, francesa e espanhola. Em 1676 concluiu a tradução de O Novo Testamento, que só surgiu mais tarde, em 1681. Traduziu o Antigo Testamento até Ezequiel, mas faleceu em 1691. Quem prosseguiu com o seu trabalho, bem mais tarde, foi o pastor Jacobus op den Akker, da Batávia. Em 1753, surgiu a primeira Bíblia completa em português, em 2 volumes, concluindo, assim o trabalho de João Ferreira de Almeida. Antônio Pereira Figueiredo - Foi um padre, nascido em 1725 em Tomar, Portugal. Traduziu exclusivamente da Vulgata Latina todo o Antigo e Novo Testamento, levando 18 anos nessa tarefa. Em 1819 veio à luz, a Bíblia completa de Figueiredo em 7 volumes, e em 1821 ela foi publicada pela primeira vez em um só volume. Figueiredo inclui em sua tradução os livros apócrifos, que o Concílio de Trento havia acrescentado aos livros canônicos em 1546. A Bíblia no Brasil Traduções parciais Frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré - Em 1847, publicou em São Luís do Maranhão, o Novo Testamento traduzido da Vulgata. Esse foi, portanto, o primeiro texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução ficou famosa por trazer em seu prefácio pesadas acusações contra as Bíblias protestantes que, segundo os acusadores, estariam falsificadas. A Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro Publicou em 1879, A Primeira edição brasileira do Novo Testamento de Almeida. Huberto Rohden Foi padre e o primeiro católico a traduzir no Brasil o Novo Testamento diretamente do grego, em 1930. Por estar baseada em textos considerados inferiores, o trabalho de Rohden sofreu severas críticas. Traduções completas Sociedades Bíblicas - Em 1917, as sociedades bíblicas publicaram um trabalho conhecido com Tradução brasileira, tradução feita por especialistas nas línguas originais, dentre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira. Padre Matos Soares - Realizou a tradução mais popular e completa da Bíblia no Brasil, em 1930. Baseada na Vulgata, essa obra possui notas defendendo os dogmas da Igreja Romana, sendo, por esse motivo, muito apreciada entre os católicos. Recebeu apoio papal em 1932. Sociedade Bíblica Trinitariana - Em 1969, em São Paulo, foi fundada a Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, com o objetivo de revisar e publicar a Bíblia de João Ferreira de Almeida como a Edição corrigida e revisada, fiel ao texto original. Em 1948, a Sociedade Bíblica do Brasil fez duas revisões no texto de Almeida: uma mais aprofundada que deu origem à Edição revista e atualizada no Brasil e uma menos aprofundada que conservou o nome de Corrigida. Imprensa Bíblica Brasileira - Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira publicou a sua Edição revisada de Almeida. Em 1988, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou A Bíblia na linguagem de hoje. Em 1990 a Editora Vida publicou a sua Edição contemporânea da Bíblia de Almeida. Outros - São também dignas de referência, a Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém e a Edição integral da Bíblia, trabalho de diversos tradutores, editado pela Editora Vozes. Antigo Testamento O Antigo Testamento contém a história do povo hebreu. Seus escritos foram compostos durante um período de mais de mil anos, até aproximadamente o final do século III a.C. Outras civilizações, como a egípcia e a babilônica, produziram também seus escritos religiosos e históricos, mas apenas os hebreus os reuniram em uma antologia sagrada. O resultado foi um épico religioso tão respeitado, que atravessou séculos e chegou aos nossos dias ainda sendo estudado e analisado por religiosos, historiadores e estudiosos do pensamento humano. Estudaremos, neste texto, apenas os personagens que julgamos mais importantes para se compreender a evolução do pensamento divino entre os homens, desde Abraão até Moisés, e de Moisés a Jesus. O conhecimento da história do povo hebreu é de fundamental importância para se compreender a história do cristianismo e sua evolução. História do povo hebreu - Personagens mais importantes A Criação e o Dilúvio * Adão e Eva => Sete => Enos (início da evocação do nome do Senhor) => Noé (muitas gerações depois) => Sem => Terá => Abraão Os patriarcas: Abraão, Isaac e Jacó (1800 1700 a.C) Abraão Na genealogia de Abraão é importante saber que é da linhagem de Sem, descendente de Noé, que por sua vez descende de Enos, filho de Sete, filho de Adão e Eva, casal que a Bíblia trata alegoricamente como sendo responsável pelo povoamento do planeta (raça adâmica). Primeiro patriarca e o fundador do povo hebreu, Abraão marca a transição para o início da existência dos hebreus como povo e o seu direito divino à terra de Israel. Simboliza a rotura definitiva com a idolatria pagã e o compromisso com o monoteísmo. Nas tradições judaicas e cristãs ele aparece como uma figura paterna, digno, humano e firme em sua fé. - Esposa oficial- Sara Filho: Isaac, que deu origem ao povo Judeu. - Ágar, a serva Filho: Ismael, que deu origem ao povo Árabe. Prova: Deus pede a Abraão que sacrifique Isaac, seu amado filho com Sara. O sacrifício é suspenso e Abraão compreende que estava sendo testado. Dá exemplo de fé e temor a Deus. Isaac - Esposa: Rebeca - Filhos: Esaú e Jacó - Irmãos gêmeos, porém Esaú veio primeiro e era o preferido de Isaac. Jacó era o preferido de Rebeca. Os dois (mãe e filho) enganaram Isaac velho e doente, que deu sua bênção e a tutela da família para Jacó, gerando o ódio de Esaú. Bem mais tarde, Esaú vai ao encontro de Isaac e perdoa seu irmão, num gesto de dignidade. Prova: Desentendimento entre irmãos por causa da primogenitura, porém houve reconciliação mais tarde. Jacó - Esposas: Lia e Raquel Filhos de Lia: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulon (e Dina). Filhos de Raquel: José e Benjamim Filhos de Bala, serva de Raquel: Dã e Naftali Filhos de Zelfa, serva de Lia: Gade e Asser - Aos doze filhos de Jacó deram origem às Doze tribos de Israel, nome dado mais tarde a Jacó, por ter "lutado" com um anjo que ele julgou ser o Senhor. Os doze filhos foram abençoados pelo pai no leito de morte, primeira alusão histórica às 12 tribos. - Jacó herdou de Abraão e Isaac a íntima comunicação com Deus e a promessa de que Canaã pertenceria à sua descendência. Rejeitou as imagens domésticas e amuletos, ainda utilizados até então. José (1700 1250 a. C) Os israelitas no Egito - Por ser preferido por seu pai Jacó, despertava ciúmes em seus irmãos. Foi vendido por eles, para uma caravana que o levou para o Egito. Lá, com seus dons espirituais e sabedoria, terminou como o segundo homem com poder no Estado. Seus irmãos, mais tarde foram recebidos por ele e perdoados por seus erros. Jacó e toda a sua família se estabeleceu como um clã pastoril na terra de Gessen, na região nordeste do delta do Nilo. Ali seus descendentes viveram e prosperaram durante 4 séculos. - A importância de José está em ter levado a idéia do Deus único para o Egito, ter salvo sua família da fome e sede depois de ter sido maltratado por eles, ter vivido com sabedoria e bondade e fé. Levou os israelitas para viver no Egito, o que se deu com tranqüilidade e fartura por quase 400 anos. - Escravidão: A descendência de Abraão permaneceu em "terra estrangeira" durante 430 anos. No Egito, mortos José e os homens de seu tempo, levantou-se um rei que, por medo dos israelitas, estabeleceu a escravidão para eles, durante um período que durou 80 anos ou mais. Esse rei, Ramsés II (1301 1234), o maior construtor da história do Egito, transformou os israelitas em operários escravos e submeteu-os a trabalhos forçados, porque eles haviam se tornado muito numerosos e fortes. Depois, querendo reduzir o número dos hebreus no Egito, o faraó ordenou às parteiras hebréias que matassem todos os meninos após o nascimento. Como não adiantasse, obrigou seu povo a jogar no rio os meninos recém-nascidos para que se afogassem. Começa a história de Moisés. Moisés É a figura mais majestosa do Antigo Testamento. Grande líder e legislador. Seu papel foi tão importante que o Pentateuco também é conhecido como Os Cinco Livros de Moisés. Trouxe a primeira Revelação de Deus aos homens, nas tábuas dos Dez Mandamentos. Fatos mais importantes da vida do missionário: A morte do egípcio A fuga para o deserto de Sinai A revelação de Deus sobre sua missão O retorno ao Egito A luta para convencer o faráo As dez pragas No deserto Os Dez Mandamentos Do Sinai a Cades A morte de Moisés A lei civil de Moisés foi estruturada ao longo dos anos, tendo como base a justiça de Deus. Era um código político, social e familiar, com um espírito progressista, bem adiante de sua época. Abaixo um resumo dos pontos mais importantes: Monoteísmo um Deus único, poderoso, justo, bom e soberano sobre todas as coisas. Proibição do exercício arbitrário do poder. Mesmo um rei deve temer a Deus e seguir a Lei. Estabelece juízes e escribas em cada cidade. A justiça deve ser administrada de forma imparcial para ricos e pobres Não perverter o direito, não fazer acepção de pessoas, não aceitar subornos, pois "o suborno cega os olhos dos sábios e falseia a causa dos justos". Proteção aos necessitados e desvalidos, a escravos fugitivos, devedores, servos, assalariados, órfãos, viúvas e forasteiros. Respeito às mulheres. Difamação é crime. As práticas do comércio devem ser honestas. Devem ser isentos do serviço militar os que, recentemente tenham casado, plantado vinha, construído casa. Respeito e preservação dos animais: o boi sem focinheira enquanto estiver amassando o grão na eira e poupar a ave-mãe se forem colhidos ovos do ninho. O Pentateuco Os Cinco Livros (Pentateuco) resumem de forma épica a história do povo hebreu e, conseqüentemente, a origem do Cristianismo: Gênesis: A Gênesis trata da origem da Criação e do próprio mundo terreno. Nele, há uma narrativa simbólica onde todas as fases do aparecimento do Universo e do planeta Terra são descritas com relativa precisão. No estudo da Codificação Espírita, voltaremos a nos ocupar desse assunto, examinando o livro preparado por Allan Kardec, também denominado "A Gênese", que trata o tema em profundidade. Êxodo: O livro Êxodo conta os principais episódios ligados à libertação do povo hebreu, escravo no antigo Egito durante cerca de quatrocentos anos. Esta liberdade teria sido conseguida através do trabalho missionário de Moisés, narrado em detalhes pela história bíblica. Levítico: O Levítico é o livro que contém as instruções que eram destinadas à orientação dos cultos entre os seguidores do Legislador hebreu e a Divindade. Orientava as obrigações e rituais religiosos da época. Números: O livro Números apresenta parte da história da movimentação dos hebreus no deserto em direção à Canaã, a terra prometida. Nele, existe ainda a realização de um censo, feito com a finalidade de se saber quantas pessoas empreenderam a histórica viagem, depois que Moisés as libertou do Egito. Deuteronômio: O Deuteronômio apresenta um código de leis promulgadas por Moisés, destinadas a reorganizar a vida social do seu povo. É neste livro que se encontra a proibição dos contatos mediúnicos com os "mortos". A lei mosaica proibia essas atividades, porque as evocações fúteis, comuns entre os egípcios, também eram praticadas pelos hebreus de forma fanática e irresponsável. A prática tinha se vulgarizado e se tornado em motivo de graves problemas entre eles. A proibição foi uma medida disciplinar do legislador. Fim Bibliografia Compilação: Wander Romero Introdução Bíblica Norman Geisler e William Nix Editora Vida, 1997 Quem é Quem no Antigo Testamento Joan Comay, Imago Editora, 1998 Fim

Apócrifos da Assunção

www.autoresespiritasclassicos.com Apócrifos da Assunção Livro de São João Evangelista (o Teólogo) Tratado de São João, o Teólogo, sobre a Passagem da Santa Mãe de Deus Capítulo 1 QUANDO A santíssima e gloriosa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, segundo o seu costume, ia ao sepulcro do Senhor para queimar aromas e dobrava seus santos joelhos, costumava suplicar a Cristo, seu filho e nosso Deus, que se dignasse vir até ela. Capítulo 2 Mas, ao notar a assiduidade com que ela se acercava da sagrada tumba, os judeus foram até os príncipes dos sacerdotes para dizer-lhes: "Maria vai todos os dias ao sepulcro". Aqueles chamaram os guardas que haviam sido colocados ali com o objetivo de impedir que alguém se aproximasse para orar junto ao sagrado monumento, e começaram a fazer averiguações para saber se era verdade o que se dizia com relação a ela. Os guardas responderam que não haviam notado nada, pois de fato, Deus não lhes permitia aperceberem-se da sua presença. Capítulo 3 Certo dia, uma sexta-feira, a santa Maria foi, como de costume, ao sepulcro. E, enquanto estava orando, aconteceu que os céus se abriram e o arcanjo Gabriel desceu até ela e lhe disse: "Deus a salve, O mãe de Cristo nosso Deus; tua oração, depois de atravessar os céus, chegou até a presença de teu Filho e foi ouvida. Por isto abandonarás o mundo daqui a pouco e partirás, conforme teu pedido, para as mansões celestiais, ao lado de teu Filho, para viver a vida autêntica e perene". Capítulo 4 E, tendo ouvido isto dos lábios do santo arcanjo, voltou até a cidade santa de Belém, tendo junto de si as três donzelas que a atendiam. Quando, então, repousava um pouco, ergueu-se e disse-lhes: "Trazei-me um incensório, que vou orar". E elas o trouxeram, conforme lhes havia sido ordenado. Capítulo 5 Depois pôs-se a orar desta maneira: "Senhor meu Jesus Cristo, que por tua extrema bondade houveste por bem ser gerado por mim, ouve minha voz e envia-me o teu apóstolo João para que a sua visão me propicie o início da boa sorte. Manda-me também o restante dos teus apóstolos, aqueles que já foram ter contigo e aqueles que ainda se encontram nesta vida, de onde estiverem, para que, ao vê-los novamente, possa eu abençoar teu nome, sempre louvável. Sinto-me animada porque atendes à tua serva em todas as coisas". Capítulo 6 E, quando ela estava orando, eu, João, apresentei-me, já que fui arrebatado pelo Espírito Santo que me trouxe de Efeso sobre uma nuvem, deixando-me depois no lugar onde estava a mãe de meu Senhor. Entrei, então, até onde ela se encontrava e dei graças ao seu Filho; depois disse: "Salve, ó mãe de meu Senhor, aquela que gerou a Cristo nosso Deus; alegra-te, porque irás sair deste mundo muito gloriosamente". Capítulo 7 E a santa mãe de Deus louvou a Deus porque eu, João,havia chegado junto a ela, lembrando-se daquela voz do Senhor que disse: "Eis aqui a tua mãe e eis aqui o teu filho". Nesse momento as três jovens vieram e prostraram-se diante dela. Capítulo 8 Então a santa mãe de Deus dirigiu-se a mim, dizendo-me: "Vem orar e jogar incenso". Eu orei desta maneira: "ah Senhor Jesus Cristo, que fizeste tantas maravilhas, faz alguma também neste momento, à vista daquela que Te gerou; que tua mãe saia desta vida e que sejam abatidos aqueles que Te crucificaram e aqueles que não acreditaram em Ti". Capítulo 9 Depois que dei por terminada minha oração, a santa Maria disse-me: "Traz-me o incensório". E, tomando-o, ela exclamou: "Glória a Ti, meu Deus e Senhor, foi cumprido em mim o que prometeste antes de subir aos céus, que, quando fosse a minha vez de sair deste mundo, virias ao meu encontro cheio de glória e rodeado de uma multidão de anjos". Capítulo 10 Então eu, João, disse-lhe: "Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, já está para vir; e tu o verás, conforme Ele prometeu", Ao que respondeu a santa mãe de Deus: "Os judeus fizeram o juramento de queimar meu corpo quando eu morrer", Eu respondi: "Teu santo e precioso corpo não verá a corrupção", Ela então replicou: "Anda, pega o incensório, esparzi incenso e ora", E do céu veio uma voz dizendo amém. Capítulo 11 Eu ouvi esta voz, e o Espírito Santo disse-me: "João, ouviste essa voz que foi emitida no céu depois que a oração terminou?" Eu respondi-lhe: "Sim, eu ouvi", Então o Espírito Santo acrescentou: "Esta voz que escutaste é sinal da iminente chegada de teus irmãos os apóstolos e das santas hierarquias, pois hoje reunir-se-ão aqui". Capítulo 12 Eu, João, pus-me então a orar. E o Espírito Santo disse aos apóstolos: "Vinde todos e sobre as nuvens, dos confins da terra, e reuni-vos na santa cidade de Belém para assistir a mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo que está em comoção: Pedro, de Roma, Paulo, da Tibéria, Tomé, do centro das Índias, Tiago, de Jerusalém". Capítulo 13 André, o irmão de Pedro, e Felipe, Lucas e Simão Cananeu, juntamente com Tadeu, os quais já haviam morrido, foram despertados de seus sepulcros pelo Espírito Santo. Este dirigiu-se a eles e disse-lhes: "Não creiais que já chegou a hora da ressurreição. A razão pela qual neste momento surgis de vossas tumbas é que haveis de ir prestar preito à mãe de vosso Salvador e Senhor Jesus Cristo,tributando-lhe uma maravilhosa homenagem; pois chegou a hora de sua saída deste mundo e de sua partida para os céus". Capítulo 14 Também Marcos, ainda vivo, chegou de Alexandria juntamente com os outros, chegados, como foi dito, de todos os países. Pedro, arrebatado por uma nuvem, esteve no meio do céu e da terra sustentado pelo Espírito Santo, enquanto os demais apóstolos por sua vez também eram arrebatados sobre as nuvens para se encontrarem com Pedro. E assim, desta maneira, como fica dito, todos foram chegando por obra do Espírito Santo. Capítulo 15 Entramos depois no lugar onde estava a mãe de nosso Deus e, prostrados em atitude de adoração, dissemos-lhe: "Não tenhas medo nem aflição. O Senhor Deus, a quem deste à luz, tirar-te-á deste mundo gloriosamente". E ela, regozijando-se em Deus seu salvador, ergueu-se no leito e disse aos apóstolos: "Agora sim eu creio que nosso Deus e mestre já vem do céu, que o vou contemplar e que hei de sair desta vida da mesma maneira pela qual eu vos vi apresentar-vos aqui. Quero que me digais como tomastes conhecimento da minha partida e vos apresentastes a mim e de quais países e latitudes viestes, já que viestes visitar-me com tanta presteza. Embora havereis de saber que meu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo e Deus universal, não quis ocultar-me, pois estou firmemente persuadida, mesmo neste momento, de que Ele é o Filho do Altíssimo". Capítulo 16 Então Pedro dirigiu-se aos apóstolos nestes termos: "Cada um de nós, de acordo com o que nos foi anunciado e ordenado pelo Espírito Santo, dê a informação à mãe de Nosso Senhor". Capítulo 17 Eu, João, de minha parte respondi e disse: "Encontrava-me em Efeso e, enquanto me aproximava do santo altar para celebrar os ofícios, o Espírito Santo disse-me: 'Chegou para a mãe do teu Senhor a hora de partir; põe-te então a caminho de Belém para despedir-te dela'. Nesse instante uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me na porta da casa onde tu jazes". Capítulo 18 Pedro respondeu: "Eu também, quando me encontrava em Roma, ouvi uma voz da parte do Espírito Santo, a qual me disse: `A mãe de teu Senhor, tendo já chegado sua hora, está para partir; põe-te então a caminho de Belém para despedir-te dela'. E eis que uma nuvem luminosa arrebatou-me, e pude ver também os demais apóstolos que vinham até mim sobre as nuvens e percebi uma voz que dizia: `Ide todos a Belém"'. Capítulo 19 Paulo, por sua vez, respondeu e disse: "Também eu, enquanto me encontrava numa cidade a pouca distância de Roma, chamada terra dos Tibérios, ouvi o Espírito Santo que me dizia: 'A mãe de teu Senhor está para abandonar este mundo e empreender por meio da morte a sua caminhada aos céus; põe-te tu também então a caminho de Belém para despedir-te dela'. E nesse momento uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me no mesmo lugar em que estais". Capítulo 20 Tomás, por sua vez, respondeu e disse: "Também eu encontrava-me percorrendo o país dos hindus, e à medida que pregava ia conquistando confiança,com a graça de Cristo, quando o filho da irmã do rei, de nome Lavdan, estava para receber de mim o selo do batismo, no palácio, de repente o Espírito Santo disse-me: `Tu, Tomás, apresenta-te também em Belém para despedir-te da mãe do teu Senhor, pois o seu trânsito para os céus está para se efetuar'. Nesse momento uma nuvem luminosa arrebatou-me e trouxe-me à vossa presença". Capítulo 21 Marcos, por sua vez, respondeu e disse: "Eu me encontrava na cidade de Alexandria, celebrando o oficio da terça e, enquanto orava, o Espírito Santo arrebatou-me trouxe-me à vossa presença". Capítulo 22 Tiago respondeu e disse: "Enquanto me encontrava em Jerusalém, o Espírito Santo intimou-me com esta ordem: 'Vai a Belém, pois a mãe de teu Senhor está para partir'. E uma nuvem luminosa arrebatou-me e colocou-me na vossa presença". Capítulo 23 Mateus, por sua vez, respondeu e disse: "Eu dei graças e continuo dando graças a Deus porque, estando cheio de agitação ao encontrar-me dentro de uma embarcação e ver o mar alvoroçado pelas ondas, veio de repente uma nuvem luminosa e deitou sua sombra sobre a fúria da tempestade, acalmando-a; depois tomou-me e colocou-me junto a vós". Capítulo 24 Por sua vez aqueles que haviam vindo anteriormente responderam e narraram de que maneira se haviam apresentado. Bartolomeu disse: "Eu encontrava-me na Tebaida pregando a palavra, e eis que o Espírito Santo dirigiu-se a mim nestes termos: 'A mãe de teu Senhor está para partir; põe-te então, a caminho de Belém para despedir-te dela'. E eis que uma nuvem luminosa arrebatou-me e trouxe-me até vós". Capítulo 25 Tudo isto foi dito pelos apóstolos à santa mãe de Deus:como e de que maneira haviam feito a viagem. E depois ela estendeu suas mãos aos céus e orou dizendo: "Adoro, exalto e glorifico teu celebradíssimo nome, pois puseste teus olhos na humildade da tua escrava e fizeste em mim grandes coisas, Tu que és poderoso. E eis aqui que todas as gerações chamar-me-ão bem-aventurada" Capítulo 26 E quando deu por terminada sua oração, disse aos após-tolos: "Lançai incenso e orai". E, enquanto eles oravam, produziu-se um trovão no céu e uma voz terrível fez-se ouvir. E nesse instante apareceu um imenso exército de anjos e de divindades e ouviu-se uma voz como a do Filho do Homem. Ao mesmo tempo, os ser afins circundaram a casa onde jazia a santa e imaculada virgem e mãe de Deus. De tal maneira que tantos quantos estavam em Belém viram todas estas maravilhas e foram a Jerusalém anunciando todos os prodígios acontecidos. Capítulo 27 E sucedeu que, depois que se ouviu aquela voz, o sol apareceu de repente ao mesmo tempo que a lua, ao redor da casa. E um grupo de primogênitos dos santos apresentou-se na casa onde jazia a mãe do Senhor para sua honra e glória. E vi também que muitos milagres aconteceram; cegos que voltavam a ver, surdos que ouviam, coxos que andavam, leprosos que se tornavam limpos e possuídos por espíritos imundos que eram curados. E todo aquele que se sentia acometido por alguma doença tocava pelo lado de fora o muro da casa onde ela jazia e gritava: "Santa Maria, mãe de Cristo, nosso Deus, tem compaixão de nós". E imediatamente sentiam-se curados. Capítulo 28 E grandes multidões, vindas de diversos países, que se encontravam em Jerusalém por motivo de oração, ouviam os prodígios que se operavam em Belém através da mãe do Senhor e apresentaram-se naquele lugar suplicando a cura de diversas enfermidades: coisa que obtiveram. E aquele dia produziu uma alegria inenarrável, enquanto a multidão dos curados e dos espectadores davam graças a Cristo nosso Deus e à sua mãe. E Jerusalém inteira, ao voltar de Belém, festejava cantando salmos e hinos. Capítulo 29 Os sacerdotes dos judeus, por sua vez, e todo o seu povo, estavam extáticos de admiração pelo ocorrido. Mas, dominados por uma violentíssima paixão, e depois de se terem reunido em conselho, levados pelo seu raciocínio néscio, decidiram ir contra a santa mãe de Deus e contra os santos apóstolos que se encontravam em Belém. Mas, tendo a multidão dos judeus se posto a caminho de Belém, aconteceu que à distância de uma milha uma visão terrível apresentou-se-lhes e eles ficaram com os pés como que amarrados, e voltaram aos seus conterrâneos e narraram aos príncipes dos sacerdotes tudo sobre a terrível visão. Capítulo 30 Mas aqueles, sentindo-se ainda mais irados, foram à presença do governador gritando e dizendo: A nação judaica veio abaixo por causa dessa mulher; expulsa-a de Belém e da comarca de Jerusalém". Mas o governador, surpreendido pelos milagres, replicou: "Eu, de minha parte, não a expulsarei nem de Jerusalém nem de nenhum outro lugar". Mas os judeus insistiam falando muito e rogando-lhes pela saúde de César Tibério que expulsasse os apóstolos de Belém, dizendo: "E, se assim não o fizeres, informaremos o imperador a respeito". Então viu-se constrangido a enviar um quiliarca a Belém contra os apóstolos. Capítulo 31 Então o Espírito Santo disse aos apóstolos e à mãe do Senhor: "Eis que o governador enviou um quiliarca contra vós por causa dos judeus que se amotinaram. Saí, então, de Belém e não temais, porque eu vos transportarei numa nuvem até Jerusalém, e a força do Pai, do Filho e do Espírito Santo está convosco". Capítulo 32 Então, os apóstolos levantaram-se e saíram da casa levando a liteira da Senhora, a mãe de Deus, e dirigiram seus passos a caminho de Jerusalém. Mas de repente, conforme o Espírito Santo havia dito, foram arrebatados por uma nuvem e encontraram-se em Jerusalém na casa da Senhora. Uma vez ali, levantaram-se e cantaram hinos durante cinco dias ininterruptamente. Capítulo 33 E quando o quiliarca chegou a Belém, ao não encontrar ali nem a mãe do Senhor nem os apóstolos, deteve os belemitas, dizendo-lhes: "Não sois vós aqueles que vieram contar ao governador e aos sacerdotes todos os milagres e prodígios que acabam de acontecer e não lhes dissestes que os apóstolos vieram de todos os países? Então, onde estão? Agora ponde-os todos imediatamente a caminho de Jerusalém para apresentá-los diante do governador". Note-se que o quiliarca não estava inteirado da retirada dos após-tolos e da mãe do Senhor para Jerusalém. Então, o quiliarca prendeu os belemitas e apresentou-se ao governador para dizer-lhe que não havia encontrado ninguém. Capítulo 34 Cinco dias depois chegou ao conhecimento do governador, dos sacerdotes e de toda a cidade que a mãe do Senhor, em companhia dos apóstolos, encontra-se em sua própria casa de Jerusalém, graças aos prodígios e maravilhas que ali aconteceram. E uma multidão de homens, mulheres e virgens reuniram-se gritando: "Santa Virgem, mãe de Cristo nosso Deus, não te esqueças da raça humana". Capítulo 35 Diante destes acontecimentos, tanto o povo judeu quanto os sacerdotes sentiram-se ainda mais joguetes da paixão; e, atirando lenha ao fogo, arremeteram contra a casa onde estava a mãe do Senhor em companhia dos apóstolos, com a intenção de queimá-la. O governador contemplava o espetáculo de longe. Mas, no exato momento em que o povo judeu chegava às portas da casa, eis que, por obra de um anjo, saiu do seu interior uma labareda que abrasou um grande número de judeus. Com isto a cidade inteira ficou assustada e cheia de temor e todos deram graças ao Deus que foi gerado por ela. Capítulo 36 E quando o governador viu o que sucedera, dirigiu-se a todo o povo, dizendo aos brados: "Na verdade Aquele que nasceu da Virgem, Aquele que vós maquinastes perseguir, é filho de Deus, pois estes sinais são próprios do verdadeiro Deus". Assim, então, produziu-se uma cisão entre os judeus, e muitos acreditaram no nome do Nosso Senhor Jesus Cristo graças aos prodígios realizados. Capítulo 37 E depois que se operaram estas maravilhas por intermédio da mãe de Deus e sempre Virgem Maria, mãe do Senhor, enquanto nós, os apóstolos, encontrávamo-nos com ela em Jerusalém, o Espírito Santo disse-nos: "já sabeis que foi num domingo que teve lugar a anunciação do arcanjo Gabriel à Virgem Maria, e que foi num domingo que nasceu o Salvador em Belém, e que foi num domingo que os filhos de Jerusalém saíram com palmas ao seu encontro dizendo: 'Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor', e que foi num domingo que ressuscitou de entre os mortos, e que num domingo haverá de vir julgar os vivos e os mortos e que, final-mente, num domingo haverá de baixar dos céus para honrar e glorificar com a sua presença a partida da santa e gloriosa virgem que lhe deu à luz". Capítulo 38 Nesse mesmo domingo a mãe do Senhor disse aos apóstolos: "Atirai incenso, pois Cristo já está vindo com um exército de anjos". No mesmo instante Cristo apresentou-se-nos sentando sobre um trono de querubins. E, enquanto todos estávamos orando, apareceram multidões incontáveis de anjos, e o Senhor estava pleno de majestade sobre os querubins. E eis que um eflúvio resplandecente irradiou-se sobre a santa Virgem por virtude da presença de seu Filho Unigênito, e todas as divindades celestiais caíram por terra e O adoraram. Capítulo 39 O Senhor dirigiu-se então à sua mãe e disse-lhe:- "Maria." Ela respondeu: "Aqui me tens, Senhor". Ele disse-lhe: "Não te aflijas; melhor será que teu coração se alegre e sinta gozo, pois encontraste graça para poder contemplar a glória que me foi dada pelo meu Pai". A santa mãe de Deus elevou então seus olhos e viu nele uma glória tamanha, que é inefável para a boca do homem e incompreensível. Capítulo 40 O Senhor permaneceu ao seu lado e continuou dizendo: "Eis que a partir deste momento teu corpo será transportado ao paraíso, enquanto que tua santa alma estará nos céus, entre os tesouros de meu Pai, coroada de um extraordinário resplendor, onde há paz e alegria próprias dos santos anjos e mais ainda". Capítulo 41 A mãe do Senhor respondeu e disse-lhe: "Senhor, impõe-me tua mão direita e abençoa-me". O Senhor estendeu sua santa mão direita e abençoou-a. Ela a estreitou e cobriu-a de beijos enquanto ela dizia: "Adoro esta mão direita que criou o céu e a terra. E rogo em teu nome sempre abençoado, ó Cristo-Deus, Rei dos séculos, Unigênito do Pai! Recebe a tua serva, Tu que Te dignaste encarnar através de mim, a pobrezinha, para salvar a raça humana segundo teus inefáveis desígnios. Concede tua ajuda a todo aquele que invoque ou que rogue ou que simplesmente faça menção ao nome da tua serva". Capítulo 42 Enquanto ela dizia estas coisas, os apóstolos chegaram junto aos seus pés e, adorando-a, disseram-lhe: "Deixa, ó mãe do Senhor uma bênção ao mundo, posto que vais abandoná-lo. Já o abençoaste e o ressuscitaste, perdido como estava, ao gerares tu a luz do mundo." E a mãe do Senhor, tendo-se colocado em oração, fez esta súplica: "ó Deus, que pela tua imensa bondade enviaste o teu Filho Unigênito para habitar este humilde corpo e Te dignaste a ser gerado por mim, a pobrezinha, tem compaixão do mundo e de toda alma que invocar teu nome". Capítulo 43 E orou novamente desta maneira: "ó Senhor, Rei dos céus, Filho do Deus vivo, recebe todo homem que invoque teu nome para que o teu nascimento seja glorificado". Depois pôs-se novamente a orar, dizendo: "ó Senhor Jesus Cristo, que podes no céu e na terra, esta é a súplica que dirijo ao teu santo nome: santifica para todo o sempre o lugar que se celebre a memória de meu nome e concede glória aos que Te dão graças por mim, recebendo deles toda a oferenda, toda a súplica e toda a oração". Capítulo 44 Depois de haver ela orado desta maneira, o Senhor disse à sua própria mãe: "Alegra-te e regozija-te, pois todas as formas de graças e de dons foram dados por meu Pai celestial, por mim e pelo Espírito Santo. Toda alma que invocar o teu nome ver-se-á livre da confusão e encontrará misericórdia, consolo, ajuda e amparo neste século e no futuro diante de meu Pai celestial". Capítulo 45 Então o Senhor voltou-se e disse a Pedro: "Chegou a hora de dar início à salmodia". E Pedro entoou e todas as potências celestiais responderam com o Aleluia. Então um resplendor mais forte que a luz enalteceu a face da mãe do Senhor e ela levantou-se e foi abençoando com sua própria mão cada um dos apóstolos. E todos deram glórias a Deus. E o Senhor, depois de estender suas mãos puras, recebeu sua alma santa e imaculada. Capítulo 46 E no momento da sua imaculada alma sair, o lugar viu-se inundado de perfume e de uma luz inefável. E eis que se ouviu uma voz do céu que dizia: "Bendita és tu entre as mulheres". Então Pedro, e também eu João, e Paulo e Tomé, abraçamos com toda a pressa os seus santos pés para que fôssemos santificados. E os doze apóstolos, depois de depositar seu santo corpo no ataúde, levaram-no. Capítulo 47 E então, eis que, durante a caminhada, certo judeu chamado Jefonias, robusto de corpo, atirou-se impetuosamente contra o féretro que os apóstolos levavam. Mas imediatamente um anjo do Senhor, com força invisível e servindo-se de uma espada de fogo, separou as duas mãos dos seus respectivos braços e deixou-as penduradas no ar ao longo do féretro. Capítulo 48 Ao operar-se este milagre, todo o povo judeu que o havia presenciado exclamou aos brados: "Realmente é Deus o Filho a quem deste à luz, ó mãe de Deus e sempre Virgem Maria." E o próprio Jefonias, intimado por Pedro para que reconheces-se as maravilhas do Senhor, levantou-se por detrás do féretro e pôs-se a gritar: "Santa Maria, tu que geraste Cristo-Deus, tem compaixão de mim". Pedro então dirigiu-se a ele e disse-lhe: "Em nome de seu Filho, que as mãos que estão separadas de ti se juntem". E, apenas pronunciou essas palavras, as mãos que estavam dependuradas ao longo do féretro da Senhora separaram-se dele e de nosso uniram-se a Jefonias. E com isto ele próprio acreditou e deu graças a Cristo-Deus, que foi gerado por ela. Capítulo 49 Operado este milagre, os apóstolos levaram o féretro e depositaram o seu santo e venerado corpo no Getsêmani, num sepulcro novo. E eis que daquele santo sepulcro de Nossa Senhora, a mãe de Deus, desprendia um delicado perfume. E durante três dias consecutivos ouviram-se vozes de anjos invisíveis que davam graças a seu Filho, Cristo nosso Deus. Mas, ao término do terceiro dia, deixaram de ouvir-se as vozes, com isto ficaram cientes de que o seu venerável e imaculado corpo havia sido transportado ao paraíso. Capítulo 50 Verificado que ele havia sido transportado, vimos imediatamente Isabel, a mãe de São João Batista, e Ana, a mãe de Nossa Senhora, e Abraão, e Isaac, e Jacó e Davi que cantavam a Aleluia. E vimos também todos os coros dos santos que adoravam a venerável relíquia da mãe do Senhor. Apresentou-se-nos também um local radiante de luz, cujo resplendor não se compara a nada. E o local onde teve lugar o transporte de seu santo e venerável corpo ao paraíso estava saturado de perfume. E fez-se ouvir a melodia daqueles que cantavam hinos ao seu Filho, e era tão doce que somente às virgens é dado escutá-lo; e era tal, que nunca chegava a parecer demais. Capítulo 51 Então, nós os apóstolos. após contemplarmos o augusto transporte de seu santo corpo. pusemo-nos a dar graças a Deus por haver permitido conhecermos suas maravilhas na passagem da mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por cujas orações e intercessão sejamos dignos de alcançar o poder de viver sob seu abrigo. amparo e proteção neste século e no futuro. dando graças em todo lugar e tempo a seu Filho unigênito. juntamente com o Pai e o Espírito Santo. pelos séculos dos séculos. Amém. Esta versão é mais recente e teve sua mais larga difusão na Idade Média. Quando vê chegar João, Maria faz-lhe uma admoestação por tê-la abandonado apesar da ordem do Mestre, na cruz: "Mulher, eis aí teu filho; eis aí tua mãe". Ao lado de Maria, nos seus últimos instantes, estavam apóstolos e discípulos, à exceção de Tomé, que somente chega, transportado, ao Monte das Oliveiras, a tempo de presenciar a Assunção. Depois é que se reúne aos demais, quando é advertido por Pedro, mais uma vez, por sua incredulidade. Uma vez mais ele provoca a ira de seus irmãos quando diz que o corpo não jazia no sepulcro. Suas dúvidas, porém, não eram dessa vez produto da descrença. Tinha a sua razão: ele havia sido a única testemunha da subida da Virgem aos céus. Fim

O evangelho de Pedro

www.autoresespiritasclassicos.com Primeiro Evangelho Evangelho de Pedro - A Infância de Cristo segundo Pedro Segundo Evangelho de Pedro A Crucificação de Cristo Este é considerado o quinto Evangelho, escrito por Pedro, segundo relatos feitos por Nossa Senhora. Publicado pela primeira vez em 1677, conta com verões e, grego, latim, armênio e árabe. Muita gente se indaga ainda hoje porque os Evangelhos da Bíblia não falam da infância e juventude de Cristo. Isso tem provocado inúmeras especulações, inclusive algumas que citam que o Mestre exilou-se junto aos monges do Tibete ou conviveu com os essênios, com cujos mestres instruiu-se. Admitir isso é negar a divindade de Cristo, pois se ele precisou de um mestre, seria mais lógico que, hoje em dia, adorássemos o seu mestre e não ele, o aprendiz. Isso fica bem claro nas passagens XLVIII e XLIX. Nesta narrativa, há maiores detalhes sobre o encontro de Jesus com os sábios, no templo de Jerusalém, além de suas brincadeiras com as outras crianças e seu trabalho na companhia de José. Nas notas de rodapé, apresentamos trechos do Evangelho Armênio da Infância, uma versão ampliada do Evangelho da Infância, onde algumas passagens extras esclarecem momentos importantes da vida de Jesus. Esses livros foram considerados apócrifos pela Igreja, isto é, sem a inspiração divina, e excluídos dos textos originais que formaram, ao longo do tempo, a atual Bíblia. Quais foram os critérios utilizados para selecionar os livros inspirados divinamente foi algo que até hoje a Igreja não explicou de modo convincente. O que se sabe é que há relatos sobre a infância de Cristo, sobre a Natividade, sobre São José e outras, que não são aceitas como textos sagrados, muito embora contenham narrativas que completam diversas lacunas nos textos considerados sagrados. O Evangelho da Infância mostra, de modo sensível e belo, o que foi a infância de Nosso Senhor Jesus Cristo, que desde a mais tenra idade já manifestava sua santidade. É um texto que encanta pela sua beleza, pela singeleza e pelas situações que retratam, onde o Cristo surge como a criança que foi, muito embora sua divindade o levasse a gestos inusitados, mas marcados pela sabedoria precoce e pela coerência de seus atos. A infância de Cristo Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Deus único. Com o auxílio e a ajuda do Deus todo poderoso, começamos a escrever o livro dos milagres de nosso Salvador, Mestre e Senhor Jesus Cristo, que se intitula o Evangelho da Infância, conforme narrado por Maria, sua mãe, na paz do Nosso Senhor e Salvador. Que assim seja. Palavras de Jesus no Berço Encontramos no livro do grande sacerdote Josefo que viveu no tempo de Jesus Cristo, e que alguns chamam de Caifás, que Jesus falou quando estava no berço e que disse a sua mãe Maria: - Eu, que nasci de ti, sou Jesus, o filho de Deus, o Verbo, como te anunciou o anjo Gabriel, e meu Pai me enviou para a salvação do mundo. Viagem a Belém No ano de 309 da era de Alexandre, Augusto ordenara que todos fossem recenseados em sua cidade natal. José partiu, então, conduzindo Maria, sua esposa. Vieram a Jerusalém, de onde se dirigiram a Belém para inscreverem-se no local onde ele havia nascido. Quando estavam próximos a uma caverna, Maria disse a José que sua hora havia chegado e que não poderia ir até a cidade. - Entremos nesta caverna - disse ela. O sol estava começando a se pôr. José apressou-se em procurar uma mulher que assistisse Maria no parto e encontrou uma anciã que vinha de Jerusalém. Saudando-a, disse-lhe: - Entra na caverna onde encontrarás uma mulher em trabalho de parto. A Parteira de Jerusalém Após o pôr-do-sol, José chegou com a anciã à caverna e eles entraram. Eis que a caverna estava resplandecendo com uma claridade que superava a de uma infinidade de labaredas e brilhava mais do que o sol do meio-dia. A criança, enrolada em fraldas e deitada numa manjedoura, mamava no seio da mãe. Ambos ficaram surpresos com o aspecto daquela claridade e a anciã disse a Maria: - És tu a mãe desta criança? Ao responder afirmativamente Maria, disse-lhe: - Não és semelhante às filhas de Eva. Respondeu Maria respondeu: - Assim como entre as crianças dos homens não há nenhuma que seja semelhante ao meu filho, assim também sua mãe não tem par entre todas as mulheres. A anciã disse então: - Senhora e ama, vim para receber uma recompensa que perdurará para todo o sempre. Maria lhe disse, então: - Põe tuas mãos sobre a criança. Quando a anciã o fez, foi purificada. Ao sair, ela disse: - A partir deste momento, eu serei a serva desta criança e quero consagrar-me a seu serviço, por todos os dias da minha vida. A Adoração dos Pastores Em seguida, quando os pastores chegaram e acenderam o fogo, entregando-se à alegria, as cortes celestes apareceram, louvando e celebrando o Senhor, a caverna parecia-se com um templo augusto, onde reis celestiais e terrestres celebravam a glória e os louvores de Deus por causa da natividade do Senhor Jesus Cristo. E esta anciã hebréia, vendo estes milagres resplandecentes, rendia graças a Deus, dizendo: - Eu te rendo graças, ó Deus, Deus de Israel, porque os meus olhos viram a natividade do Salvador do mundo. Circuncisão Quando chegou o tempo da circuncisão, isto é, o oitavo dia, época na qual o recém-nascido deve ser circuncidado segundo a lei, eles o circuncidaram na caverna e a velha anciã recolheu o prepúcio e colocou-o em um vaso de alabastro, cheio de óleo de nardo velho. Como tivesse um filho que comercializava perfumes, Maria deu-lhe o vaso, dizendo: - Muito cuidado para não vender este vaso cheio de perfume de nardo, mesmo que te ofereçam trezentos dinares. E este é o vaso que Maria, a pecadora, comprou e derramou sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, enxugando-os com seus cabelos. Quando dez dias se haviam passado, eles levaram a criança para Jerusalém e, ao término da quarentena, eles o apresentaram no templo do Senhor, oferecendo por ele as oferendas prescritas pela lei de Moisés, que diz: - Toda criança do sexo masculino que sair de sua mãe será chamada o santo de Deus. Apresentação no Templo O velho Simeão viu o menino Jesus resplandecente de claridade como um facho de luz, quando a Virgem Maria, cheia de alegria, entrou com ele em seus braços. Uma multidão de anjos rodeava-o, louvando-o e acompanhando-o, assim como os satélites de honra seguem seu rei. Simeão, pois, aproximando-se rapidamente de Maria e estendendo suas mãos para ela, disse ao Senhor Jesus: - Agora, Senhor, teu servo pode retirar-se em paz, segundo tua promessa, pois meus olhos viram tua misericórdia e o que preparaste para a salvação de todas as nações, luz de todos os povos e a glória de teu povo de Israel. A profetisa Ana também estava presente, rendia graças a Deus e celebrava a felicidade de Maria. Adoração dos Magos IM Aconteceu que, enquanto o Senhor vinha ao mundo em Belém, cidade da Judéia, Magos vieram de países do Oriente a Jerusalém, tal como havia predito Zoroastro, e traziam com eles presentes: ouro, incenso e mirra. Adoraram a criança e renderam-lhe homenagem com seus presentes. Então Maria pegou uma das faixas, nas quais a criança estava envolvida, e deu-a aos magos que receberam-na como uma dádiva de valor inestimável. Nesta mesma hora, apareceu-lhes um anjo sob a forma de uma estrela que já lhes havia servido de guia, e eles partiram, seguindo sua luz, até que estivessem de volta a sua pátria. A Chegada dos Magos à sua Terra Os reis e os príncipes apressaram-se em se reunir em torno dos magos, perguntando-lhes o que haviam visto e o que havia feito, como haviam ido o como haviam voltado e que companheiros eles haviam tido então durante a viagem. Os magos mostraram-lhes a faixa que Maria lhes havia dado. Em seguida, celebraram uma festa, acenderam o fogo segundo seus costumes, adoraram a faixa e a jogaram nas chamas. As chamas envolveram-na. Ao apagar-se o fogo, eles retiraram o pano e viram que as chamas não haviam deixado nele nenhum vestígio. Eles se puseram então a beijá-lo e a colocá-lo sobre suas cabeças e sobre seus olhos, dizendo: - Eis certamente a verdade! Qual é pois o preço deste objeto que o fogo não pode nem consumir nem danificar? E pegando-o, depositaram-no com grande veneração entre seus tesouros. A Cólera de Herodes Herodes, vendo que os magos não retornavam a visitá-lo, reuniu os sacerdotes e os doutores e disse-lhes: - Mostrai-me onde deve nascer o Cristo. Quando responderam que era em Belém, cidade da Judéia, Herodes pôs-se a tramar, em seu espírito, o assassinato do Senhor Jesus. Então um anjo apareceu a José, durante o sono, e disse-lhe: - Levanta-te, pegue a criança e sua mãe e foge para o Egito. Quando o galo cantou, José levantou-se e partiu. Fuga para o Egito Enquanto ele refletia sobre o caminho que ele devia seguir, a aurora o surpreendeu. A correia da sela se havia rompido ao se aproximarem de uma grande cidade, onde havia um ídolo, ao qual os outros ídolos e divindades do Egito rendiam homenagem e ofereciam presentes. Sempre que Satã falava pela boca do ídolo, os sacerdotes relatavam o que ele dizia aos habitantes do Egito e de suas margens. Um sacerdote tinha um filho de trinta anos que estava possuído por um grande número de demônios. Ele profetizava e anunciava muitas coisas. Quando os demônios se apossavam dele, rasgavam suas roupas e ele corria nu pela cidade, jogando pedras nos homens. A hospedaria dessa cidade ficava perto deste ídolo. Quando José e Maria lá chegaram e se hospedaram, os habitantes ficaram profundamente perturbados e todos os príncipes e sacerdotes dos ídolos se reuniram ao redor desse ídolo, perguntando-lhe: - De onde vem esta agitação universal e qual é a causa deste pavor que se apoderou de nossos país? O ídolo respondeu: - Esse assombro foi trazido por um Deus desconhecido, que é o Deus verdadeiro, e ninguém a não ser ele é digno das honras divinas, pois ele é o verdadeiro Filho de Deus. À sua aproximação, esta região tremeu. Ela se emocionou e se assombrou e nós sentimos um grande temor por causa do seu poder. Neste momento, esse ídolo caiu e quebrou-se, tal como os outros ídolos que estavam no país. Sua queda fez acorrerem todos os habitantes do Egito. A Cura do Menino Endemoninhado O filho do sacerdote, acometido do mal que o afligia, entrou no albergue insultando José e Maria, já que os outros hóspedes haviam fugido. Como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo e se pôs a louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça. Quando seu pai viu que ele havia recobrado a saúde, exclamou, admirado: - Meu filho, mas o que te aconteceu e como foste tu curado?" O filho respondeu: - No momento em que me atormentavam, eu entrei na hospedaria e lá encontrei uma mulher de grande beleza, que estava com uma criança. Ela estendia sobre umas madeiras as fraldas que acabara de lavar. Eu peguei uma delas e coloquei-la sobre minha cabeça e os demônios fugiram imediatamente e me abandonaram. O pai, cheio de alegria, exclamou: - Meu filho, é possível que essa criança seja o Filho do Deus vivo que criou o céu e a terra e, assim que passou por nós, o ídolo partiu-se, os simulacros de todos os nossos deuses caíram e uma força superior à deles destruiu-os. Os Temores da Sagrada Família Assim se cumpriu a profecia que diz: - Chamei o meu filho do Egito. Quando José e Maria souberam que esse ídolo se havia quebrado, foram tomados de medo e de espanto e diziam: - Quando estávamos na terra de Israel, Herodes queria que Jesus morresse e, com esta intenção, ele ordenou o massacre de todas as crianças de Belém e das vizinhanças. É de se temer que os egípcios nos queimem vivos, se eles souberem que esse ídolo caiu. Os Salteadores Eles partiram e passaram nas proximidades do covil de ladrões, que despojavam de suas roupas e pertences os viajantes que por ali passavam e, após tê-los amarrado, os arrastavam pelo deserto. Esses ladrões ouviram um forte ruído, semelhante ao do rei que saiu de sua capital ao som dos instrumentos musicais, escoltado por grande exército e por uma numerosa cavalaria. Apavorados, então, deixaram ali todo o seu saque e apressaram-se em fugir. Os cativos, levantando-se, cortaram as cordas que os prendiam e, tendo retomado sua bagagem, iam retirar-se, quando viram José e Maria que se aproximavam e perguntaram-lhes: - Onde está este rei cujo cortejo, com seu barulho, assustou os ladrões a ponto de eles terem e nos libertado? José respondeu: - Ele nos segue. A Endemoninhada Chegaram em seguida a outra cidade, onde havia uma mulher endemoninhada. Quando ela ia buscar água no poço durante a noite, o espírito rebelde e impuro apossava-se dela. Ela não podia suportar nenhuma roupa, nem morar em uma casa. Todas as vezes que a amarravam com cordas e correntes, ela as partia e fugia nua para locais desertos. Ficava nas estradas e perto de sepulturas, perseguindo e apedrejando aqueles que encontrava no caminho, de forma que ela era, para seus pais, motivo de luto. Maria viu-a e foi tomada de compaixão. Imediatamente Satã a deixou e fugiu sob a forma de um jovem rapaz, dizendo: - Infeliz de mim, por tua causa, Maria, e por causa do teu filho! Quando essa mulher foi libertada da causa de seu tormento, olhou ao seu redor e, corando por sua nudez, procurou seus pais, evitando encontrar as pessoas. Após haver vestido suas roupas, ela contou ao seu pai e aos seus o que lhe havia acontecido. Como eles fizessem parte dos habitantes mais distintos da cidade, hospedaram em sua casa José e Maria, demonstrando por eles um grande respeito. A Jovem Muda No dia seguinte, José e Maria prosseguiram sua viagem. À noite chegaram a uma cidade onde estava sendo celebrado um casamento. Mas, em decorrência das ciladas do espírito maligno e dos encantamentos de alguns feiticeiros, a esposa ficara muda, de forma que ela não podia mais falar. Quando Maria entrou na cidade, trazendo nos braços o filho, o Senhor Jesus, aquela que havia perdido o uso da palavra avistou-o e imediatamente pegou-o em seus braços. Abraçou-o, apertando-o junto ao seu seio e cobrindo-o de carinho. Imediatamente o laço que travava sua língua partiu-se e seus ouvidos se abriram. Ela começou a glorificar e a agradecer a Deus que a havia curado. Naquela noite, houve uma grande alegria entre os habitantes dessa cidade, pois acreditavam todos que Deus e seus anjos haviam descido no meio deles. Outra Endemoninhada José e Maria passara três dias nesse lugar, onde foram recebidos com grande veneração e esplendidamente tratados. Munidos de provisões para a viagem, partiram dali e chegaram a uma outra cidade. Como ela era próspera e seus habitantes tinha boa reputação, eles pernoitaram lá. Havia nessa cidade uma boa mulher. Um dia em que ela havia descido até o rio para lavar-se, um espírito maldito, assumindo a forma de uma serpente, havia se jogado sobre e cingido o seu ventre. Todas as noites estendia-se sobre ela. Quando essa mulher viu Maria e o Senhor Jesus que ela trazia contra o seio, rogou à Santa Virgem que lhe permitisse segurar e beijar a criança. Maria consentiu, e assim que a mulher tocou a criança, Satã abandonou-a e fugiu. Desde então ela não mais o viu. Todos os vizinhos louvaram o Senhor e a mulher recompensou-os com grande generosidade. Uma Leprosa No dia seguinte, essa mulher preparou água perfumada para lavar o menino Jesus e após o haver lavado, guardou essa água. Havia lá uma jovem cujo corpo assava, coberto pela lepra branca. Lavou-se ela com essa água e foi imediatamente curada. O povo dizia então: - Não resta dúvida de que José e Maria e essa criança sejam Deuses, pois eles não podem ser simples mortais. Quando eles se preparavam para partir, essa jovem, que havia sido curada da lepra, aproximou-se deles e rogou-lhes que lhe permitissem acompanhá-los. Um Menino Leproso Eles consentiram e ela foi com eles. Chegaram a uma cidade, onde havia o castelo de um poderoso príncipe. Foram até lá e se hospedaram nele. A jovem, aproximando-se da esposa do príncipe, encontrou-a triste e chorando. Perguntou-lhe, então, qual a causa daquele pesar: - Não te espantes de me ver entregue à aflição. Estou em meio a uma grande calamidade, que não ouso contar a ninguém. A jovem tornou: - Se me confessares qual é teu mal, talvez encontres remédio junto a mim. A esposa do príncipe disse-lhe: - Não revelarás este segredo a ninguém. Casei-me com um príncipe cujo império, semelhante a um império de um rei, estende-se por vastos estados e, após haver vivido por muito tempo com ele, ele não teve de mim nenhum descendente. Finalmente, eu concebi, mas trouxe ao mundo uma criança leprosa. Após havê-lo visto, ele não quis reconhecê-lo como seu filho e me disse para matar a criança ou entregá-la a uma ama para que a criasse num local tão afastado, para que não mais ouvíssemos sobre ela. Além disso, ele me mandou pegar o que é meu, pois não queria me ver mais. Eis porque me entrego à dor, deplorando a calamidade que sobre mim se abateu. Choro por meu marido e por meu filho. A jovem respondeu-lhe: - Pois não te disse que eu tenho para ti o remédio que te havia prometido? Eu também fui atingida pela lepra, mas fui curada por uma graça de Deus, que é Jesus, o filho de Maria. A mulher perguntou-lhe, então, onde estava esse Deus do qual falava. A jovem respondeu-lhe: - Ele está bem aqui, nesta casa". Perguntou a princesa: - Como pode ser isso, onde está ele? A jovem respondeu: - Aqui estão José e Maria. A criança que está com eles é Jesus e foi ele quem me curou dos meus sofrimentos. - E por que meio pôde ele te curar? Não vais me contar? - quis saber a princesa. A jovem explicou: - Recebi de sua mãe a água na qual ele havia sido lavado, espalhei-la então sobre meu corpo e minha lepra desapareceu. A esposa do príncipe ergueu-se, então, e recebeu José e Maria. Preparou para José um magnífico festim, para o qual muitas pessoa foram convidadas. No dia seguinte, ela pegou água perfumada a fim de lavar o Senhor Jesus e ela lavou, com essa mesma água, o seu filho, que ela havia trazido consigo, e logo ele se curou da lepra. Ela se pôs a cantar louvores a Deus e a render-lhe graças, dizendo-lhe: - Feliz da mãe que te gerou, ó Jesus! A água com a qual o teu corpo foi lavado cura os homens que têm tua natureza. Ela ofereceu presentes a Maria e dela despediu-se, tratando-a com grande deferência. Um Feitiço Chegaram a outra cidade onde deviam pernoitar. Foram à casa de um homem recém-casado que, atingido por um malefício, não podia desfrutar sua esposa. Após haverem eles passado a noite perto do homem, o encantamento quebrou-se. Quando o dia amanheceu, preparavam-se para prosseguir a viagem, mas o esposo impediu-os de partir e preparou-lhes um grande banquete. A História de um Mulo No dia seguinte partiram e, ao se aproximarem de uma outra cidade, viram três mulheres que se afastavam de um túmulo, a verter em lágrimas. Maria, tendo-as visto, disse à jovem que os acompanhava: - Pergunta-lhes quem são elas e qual a desgraça que se lhes abateu. Elas não responderam mas puseram-se a interrogá-la, dizendo: - Quem sois vós, e para onde ides? Pois o dia está terminando e a noite se aproxima. A moça respondeu: - Somos viajantes e procuramos uma hospedaria para passar a noite. As mulheres disseram: - Acompanhai-nos e passai a noite em nossa casa. Eles seguiram essas mulheres e foram levados a uma casa nova, ornada e decorada por diversos móveis. Era inverno e a jovem moça, tendo entrado no quarto dessas mulheres, encontrou-as chorando e se lamentando. Ao lado delas, coberta por uma manta de seda, encontrava-se um mulo com forragem à sua frente. Elas davam-lhe de comer e o beijavam. A jovem disse então: - Ó, minha senhora, como é belo este mulo! Elas responderam chorando: - Este mulo que estás vendo é nosso irmão, que nasceu de nossa mãe. Nosso pai deixou-nos com sua morte grandes riquezas e nós só tínhamos este irmão, para quem tentávamos encontrar um casamento conveniente. Porém, mulheres dominadas pelo espírito da inveja, lançaram sobre ele, sem que soubéssemos, encantamentos. E uma certa noite, um pouco antes do amanhecer, estando fechadas as portas da nossa casa, encontramos nosso irmão transformado em mulo, tal qual o vês hoje. Entregamo-nos à tristeza, visto que não tínhamos mais nosso pai para consolar-nos. Consultamos todos os sábios do mundo, todos os magos e os feiticeiros, tentamos de tudo, mas nenhum deles nada pôde fazer por nós. Eis porque sempre que nosso coração está a ponto de explodir de tristeza. Nós nos levantamos e vamos, junto com a nossa mãe que aqui está, ao túmulo de meu pai e, após haver chorado, retornamos para cá. Volta a Ser Homem Ao ouvir tal coisas, a jovem disse: - Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males está muito próxima, em vossa morada. Eu era leprosa, mas após haver visto essa mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus, e após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia lavado, eu me curei. Eu sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça. Levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos vossos aposentos, revelai-lhe o segredo que acabais de me contar e suplicai-lhe piedade. Ao ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com Maria. Levaram o multo até o quarto e lhe disseram, chorando: - Maria, Nossa Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu chefe e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é nosso irmão. Algumas mulheres, com seus encantamentos, reduziram-no a este estado. Rogamos-te, pois, que tenhas piedade de nós. Maria, comovida e chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do mulo, dizendo: - Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze com que este homem recobre a razão, da qual foi privado. Nem bem essas palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma humana, mostrando-se sob os traços de um belo rapaz. Não lhe restava nenhuma deformidade. Ele, sua mãe e suas irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino acima de suas cabeças, beijaram-no, dizendo: - Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua presença. As Bodas As duas irmãs disseram à mãe: - Nosso irmão retomou a forma primitiva, graças à intervenção do Senhor Jesus e aos bons conselhos dessa jovem, que nos sugeriu recorrer a Maria e ao seu filho. Agora, já que nosso irmão não está casado, pensamos que seria conveniente que ele desposasse essa moça. Após haverem feito este pedido a Maria e haver ela consentido, fizeram para as bodas preparativos esplêndidos. A dor transformou-se em alegria e o choro cedeu espaço ao riso. Elas só fizeram cantar e regozijar-se, enfeitadas com magníficas vestimentas e jóias preciosas. Ao mesmo tempo, entoavam cânticos de louvor a Deus, dizendo: - Ó, Jesus, Filho de Deus, que transformaste nossa aflição em contentamento e nossas lamúrias em gritos de alegria! José e Maria lá permaneceram por dez dias. Ao partirem, receberam demonstrações de veneração de parte de toda a família, que despediu-se deles chorando muito, principalmente a moça que se desfazia em lágrimas. Os Salteadores Chegaram, em seguida, a um deserto. Como lhes haviam dito que era infestado de ladrões, prepararam-se para atravessá-lo durante a noite. Eis que, de repente, avistaram dois ladrões que dormiam e, perto deles, muitos outros ladrões, seus companheiros, que também estavam entregues ao sono. Esses dois ladrões chamavam-se Titus e Dumachus. O primeiro disse ao outro: - Eu te peço que deixes estes viajantes irem em paz, para que nossos companheiros não os vejam. Tendo Dumachus recusado, Titus disse-lhe: - Dou-te quarenta dracmas e fica com meu cinto como penhor. Deu-lhe o cinto e, ao mesmo tempo, pediu que não desse alarme. Maria, vendo esse ladrão tão disposto a servi-los, disse-lhe: - Que Deus te proteja com sua mão direita e que ele te conceda a remissão de teus pecados". O Senhor Jesus disse a Maria: - Daqui a trinta anos, ó minha mãe, os judeus me crucificarão em Jerusalém e estes dois ladrões serão postos na cruz ao meu lado: Titus à minha direita e Dumachus à minha esquerda. Neste dia, Titus me precederá no Paraíso. Quando ele assim falou, sua mãe respondeu-lhe: - Que Deus afaste de ti semelhante desgraça, ó meu filho! Foram dar, em seguida, em uma cidade, cheia de ídolos. Quando eles se aproximavam, ela foi transformada em um monte de areia. A Sagrada Família em Mataréia Foram ter, em seguida, a um sicômoro, que chamam hoje de Mataréia, e o Senhor Jesus fez surgir neste lugar uma fonte, onde Maria lavou sua túnica. O bálsamo que produz esse país vem do suor que escorreu pelos membros de Jesus. A Sagrada Família em Mênfis Foram então a Mênfis e, tendo visitado o faraó, permaneceram três anos no Egito, onde o Senhor Jesus fez muitos milagres, que não estão consignados nem no Evangelho da Infância, nem no Evangelho Completo. A volta para Nazaré Depois de três anos, eles deixaram o Egito e voltaram para a Judéia. Quando já estavam próximos, José teve medo de entrar lá, porque acabara de saber que Herodes estava morto e que seu filho Arquelaus havia lhe sucedido. Um anjo de Deus apareceu-lhe, porém, e disse-lhe: - José, vai para a cidade de Nazaré e estabelece ali tua residência. A Peste em Belém Quando chegaram a Belém, havia uma proliferação de doenças graves e difíceis de serem curadas, que atacavam os olhos das crianças e lhes causavam a morte. Uma mulher, que tinha um filho atacado por esse mal, levou-o a Maria e encontrou-a banhando o Senhor Jesus. A mulher disse-lhe: - Maria, vê meu filho que sofre cruelmente. Maria, ouvindo-a, disse-lhe: - Pegue um pouco desta água com a qual eu lavei meu filho e espalha-a sobre o teu. A mulher fez como lhe havia recomendado Maria e seu filho, depois de uma forte agitação, adormeceu. Quando acordou, estava completamente curado. A mulher, cheia de alegria, foi até Maria, que lhe disse: - Rende graças a Deus por ele haver curado o teu filho. Outro Menino Agonizante Essa mulher tinha uma vizinha cujo filho fora atingido pela mesma doença e cujos olhos estavam quase fechados. Ele gritava e chorava noite e dia. Aquela cujo filho havia sido curado disse-lhe: - Por que não levas teu filho a Maria, como eu fiz, quando o meu estava prestes a morrer e ele foi curado pela água do banho de Jesus? A mulher foi pegar também daquela água e, assim que ela derramou sobre seu filho, ele foi curado. Levou então seu filho em perfeita saúde para Maria, que lhe recomendou que rendesse graças a Deus e que não contasse a ninguém o que havia acontecido. O Menino no Forno Havia na mesma cidade duas mulheres casadas com um mesmo homem e cada uma delas tinha um filho doente. Uma se chamava Maria e seu filho, Cleofás. Essa mulher levou seu filho a Maria, mãe de Jesus, e ofereceu uma bela toalha, dizendo-lhe: - Maria, recebe de mim essa toalha e, em troca, dá-me uma das tuas fraldas. Maria consentiu e a mãe de Cleofás confeccionou, com essa fralda, uma túnica, com a qual vestiu seu filho. Ele ficou curado e o filho de sua rival morreu no mesmo dia, o que causou profundo ressentimento entre essas duas mulheres. Elas se encarregavam, em semanas alternadas, dos trabalhos caseiros e, um dia em que era vez de Maria, a mãe de Cleofás, ela estava ocupada aquecendo o forno para assar pão. Precisando de farinha, deixou seu filho perto do forno. Sua rival, vendo que a criança estava sozinha, pegou-a e jogou-a no forno em brasa e fugiu. Maria retornou logo em seguida, mas qual não foi o seu espanto, quando ela viu seu filho no meio do forno, rindo, pois ele havia subitamente esfriado, como se jamais houvesse sido aquecido. Ela suspeitou que sua rival o havia jogado ali. Tirou-o de lá, levou-o até a Virgem Maria e contou-lhe o que havia acontecido. Maria disse-lhe: - Cala-te, pois eu receio por ti se divulgares tais coisas! Em seguida, a rival foi buscar água no poço e, vendo Cleofás brincando e percebendo que não havia ninguém por perto, pegou a criança e jogou-a no poço. Alguns homens que haviam vindo para tirar água viram a criança sentada na água, sem nenhum ferimento, e por meio de cordas tiraram-na de lá. Ficaram tão admirados com essa criança que renderam-lhe as mesmas homenagens devidas a um Deus. Sua mãe, chorando, carregou-o até Maria e disse-lhe: - Minha senhora, vê o que minha rival fez ao meu filho, jogando-o no poço. Ah, ela acabará, por certo, causando-lhe a morte! Maria respondeu-lhe: - Deus punirá o mal que te foi feito. Alguns dias depois, a rival foi buscar água no poço e seus pés enroscaram-se na corda e ela caiu nele. Quando acorreram, acharam-na com a cabeça partida. Ela morreu, portanto, de uma forma funesta. A palavra do sábio se cumpre em si: - Cavaram um poço e jogaram a terra em cima, mas caíram no poço que eles mesmos haviam preparado. Um Futuro Apóstolo Uma outra mulher da mesma cidade tinha dois filhos, os dois doentes. Um morreu e o outro estava agonizando. Sua mãe tomou-o nos braços e levou-o até Maria. Aos prantos, disse-lhe: - Minha senhora, vem em meu auxílio e tem piedade de mim. Eu tinha dois filhos, acabo de perder um e vejo o outro a ponto de morrer. Imploro a misericórdia do Senhor. E pôs-se a gritar: - Senhor, tu és pleno em clemência e compaixão! Tu me deste dois filhos, me levaste um deles, pelo menos deixa-me o outro. Maria, testemunha da sua extrema dor, sentiu pena e disse-lhe: - Coloca teu filho na cama de meu filho e cobre-o com suas roupas. Quando a criança foi colocada na cama, ao lado de Jesus, seus olhos já cerrados pela morte abriram-se e, chamando sua mãe em voz alta, pediu-lhe pão. Quando lhe deram, comeu-o. Então sua mãe disse: - Maria, eu sei que a virtude de Deus habita em ti, a ponto de teu filho curar as crianças que o tocam. A criança que assim foi curada é o mesmo Bartolomeu se quem se fala no Evangelho. Uma Leprosa Havia ainda no mesmo lugar uma leprosa que foi ter com Maria, mãe de Jesus, dizendo-lhe: - Minha senhora, tem piedade de mim". Maria quis saber: - Que ajuda pedes tu? Queres ouro, prata ou queres te curar da lepra? A mulher respondeu: - Que podes fazer por mim?" Maria disse: - Espera um pouco, até que eu tenha banhado e posto meu filho na cama. A mulher esperou e Maria, após o haver deitado, estendeu à mulher um vaso cheio de água do banho do seu filho e disse-lhe: - Pega um pouco desta água e espalha-a sobre o teu corpo. Assim que a doente obedeceu, curou-se e ela rendeu graças a Deus. Outra Leprosa Ela partiu em seguida, após haver permanecido três dias junto de Maria, e foi para uma cidade onde morava um príncipe, que havia desposado a filha de um outro príncipe. Quando ele viu sua esposa, porém, percebeu entre seus olhos as marcas da lepra sob a forma de uma estrela e o seu casamento foi declarado nulo e não válido. Essa mulher, vendo o desespero da princesa, perguntou-lhe a causa dessas lágrimas. A princesa respondeu-lhe: - Não me interrogues, pois a minha desgraça é tanta que eu não posso revelá-la a ninguém. A mulher insistia em saber, dizendo que talvez conhecesse algum remédio. Ela viu então as marcas da lepra entre os olhos da princesa. - Eu também fui atingida por essa doença. Fui a Belém para tratar de negócios e lá entrei numa caverna onde vi uma mulher chamada Maria. Ela carregava uma criança que se chamava Jesus. Vendo-me atingida pela lepra, ela teve pena de mim e me deu um pouco da água na qual havia lavado o corpo de seu filho. Eu espalhei essa água sobre meu corpo e fui imediatamente curada. A princesa disse-lhe então: - Levanta-te, vem comigo e mostra-me Maria. Ela foi, levando ricos presentes. Quando Maria a viu, disse: - Que a misericórdia do Senhor Jesus esteja sobre ti. Ela lhe deu um pouco da água na qual havia lavado seu filho. Assim que a princesa espalhou-a sobre o próprio corpo, ela se viu curada e rendeu graças ao Senhor, assim como todos os que ali estavam. O príncipe, ao saber que sua esposa havia sido curada, recebeu-a, celebrou um segundo casamento, e rendeu graças a Deus. Uma Jovem Endemoninhada Havia, no mesmo lugar, uma jovem que Satã atormentava. O espírito maldito aparecia-lhe sob a forma de um dragão, que queria devorá-la. Ele já havia sugado todo o sangue, de maneira que ela se parecia com um cadáver. Todas as vezes em que ele se jogava sobre ela, ela gritava e, juntando as mãos sobre a cabeça, dizia: - Desgraça, desgraça de mim, pois não existe ninguém que possa livrar-me deste horrível dragão. Seu pai, sua mãe e todos aqueles que a cercavam, testemunhas de sua infelicidade, entregavam-se à aflição e derramavam lágrimas, principalmente quando a viam chorar e gritar: - Irmãos e amigos, não existirá ninguém que possa libertar-me deste monstro? A princesa, que havia sido curada da lepra, ouvindo a voz dessa infeliz, subiu até o telhado de seu castelo e viu-a com as mãos unidas acima da cabeça, a verter copiosas lágrimas. Todos aqueles que a rodeavam estavam desolados. Ela perguntou se a mãe dessa possuída vivia ainda. Quando lhe responderam que o seu pai e sua mãe estavam ambos vivos, ela disse: - Tragam sua mãe até mim. Quando esta chegou, ela lhe perguntou: - É tua filha que está assim possuída? A mãe, tendo respondido que sim, chorou, mas a princesa disse-lhe: - Não revela o que vou te contar. Eu já fui uma leprosa, mas Maria, a mãe de Jesus Cristo, me curou. Se queres que tua filha tenha a mesma felicidade, leva-a a Belém e implora com fé a ajuda de Maria. Eu creio que voltarás cheia de alegria, trazendo tua filha curada. Imediatamente a mãe levantou-se e partiu. Foi procurar Maria e expôs-lhe o estado de sua filha. Maria, após tê-la ouvido, deu-lhe um pouco da água, na qual ela havia lavado seu filho Jesus, e disse-lhe para derramá-la sobre o corpo da possuída. Em seguida deu-lhe uma fralda do menino Jesus, acrescentando: - Pega isto e mostra-o a teu inimigo, todas as vezes em que o vir. Dizendo isso, despediu-as com suas bênçãos. Outra Possessa Após haver deixado Maria, elas retornaram à sua cidade. Quando veio o tempo no qual Satã costumava atormentá-la, ele lhe apareceu sob a forma de um grande dragão. Ao ver a sua aparência, a jovem foi tomada pelo pavor, mas sua mãe disse-lhe: - Não temas, minha filha! Deixa que ele se aproxime mais de ti e mostre-lhe esta fralda que nos deu Maria e veremos o que ele poderá fazer. Quando o espírito maligno, que havia tomado a forma de um dragão, estava bem perto, a doente, tremendo de medo, colocou sobre sua cabeça a fralda e desdobrou-a. De repente, dela saíram chamas que se dirigiam à cabeça e aos olhos do dragão. Ouviu-se, então, uma voz que gritava: - Que há entre ti e mim, ó Jesus, filho de Maria? Onde encontrarei um abrigo que me livre de ti? Satã fugiu apavorado, abandonando essa jovem e nunca mais apareceu. Ela se viu curada e, grata, rendeu graças a Deus, assim como todos os que haviam presenciado esse milagre. Judas Iscariotes Havia nessa mesma cidade uma outra mulher cujo filho era atormentado por Satã. Ele se chamava Judas e sempre que o espírito maligno apoderava-se dele, ele tentava morder todos os que estavam à sua volta. Se estivesse sozinho, mordia suas próprias mãos e membros. A mãe desse infeliz, ouvindo falar de Maria e de seu filho Jesus, foi com seu filho nos braços até Maria. Nesse meio tempo, Tiago e José haviam trazido o menino Jesus para fora da casa, para que pudesse brincar com as outras crianças. Eles estavam sentados fora da casa e Jesus com eles. Judas aproximou-se também e sentou-se à direita de Jesus e, quando Satã começou a agitá-lo como sempre o fazia, ele tentou morder Jesus. Como não podia alcançá-lo, dava-lhe socos no lado direito, de forma que Jesus começou a chorar. Nesse momento, entretanto, Satã saiu dessa criança sob a forma de um cão enraivecido. Essa criança era Judas Iscariotes, que mais tarde trairia Jesus. O lado em que ele havia batido foi o lado que os judeus trespassaram com a lança. As Estatuazinhas de Barro Quando o Senhor Jesus havia completado o seu sétimo ano, ele brincava um dia com outras crianças de sua idade. Para divertir-se, eles faziam com terra molhada diversas imagens de animais, de lobos, de asnos, de pássaros, cada um elogiando seu próprio trabalho e esforçando-se para que fosse melhor que o de seus companheiros. Então o Senhor Jesus disse para as crianças: - Ordenarei às figuras que eu fiz que andem e elas andarão. As crianças perguntaram-lhe se ele era o filho do Criador e o Senhor Jesus ordenou às imagens que andassem e elas imediatamente andaram. Quando ele mandava voltar, elas voltavam. Ele havia feito figuras de pássaros que voavam, quando ele ordenava que voassem, e que paravam, quando ele dizia para parar. Quando ele lhes dava bebida e comida, eles comiam e bebiam. Quando as crianças foram embora e contaram aos seus pais o que haviam visto, eles disseram: - Fugi, daqui em diante, de sua companhia, pois ele é um feiticeiro! Deixai de brincar com ele! As Cores do Tintureiro Certo dia, quando brincava e corria com outras crianças, o Senhor Jesus passou em frente à loja de um tintureiro, que se chamava Salém. Havia nessa loja tecidos que pertenciam a um grande número de habitantes da cidade e que Salém se preparava para tingir de várias cores. Tendo Jesus entrado na loja, pegou todas as fazenda e jogou-as na caldeira. Salém virou-se e, vendo todas as fazendas perdidas, pôs-se a gritar e a repreender Jesus, dizendo: - Que fizeste tu, ó filho de Maria? Prejudicaste a mim e a meus cidadãos. Cada um pediu uma cor diferente e tu apareceste e puseste tudo a perder. O Senhor Jesus respondeu: - Qualquer fazenda que queiras mudar a cor, eu mudo. Ele se pôs a retirar as fazendas da caldeira e cada uma estava tingida da cor que desejava o tintureiro. Os judeus, testemunhando esse milagre, celebraram o poder de Deus. Jesus na Carpintaria José ia por toda a cidade, levando com ele o Senhor Jesus. Chamavam-no para que fizesse portas, arcas e catres e o Senhor Jesus estava sempre com ele. E sempre que a obra de José precisava ser mais comprida ou mais curta, mais larga ou mais estreita, o Senhor Jesus estendia a mão e ela ficava exatamente do jeito que queria José, de forma que ele não precisava retocar nada com sua própria mão, pois ele não era muito hábil no ofício de marceneiro. Uma Encomenda do Rei Um dia, o rei de Jerusalém mandou chamá-lo e disse: - Eu quero, José, que me faças um trono segundo as dimensões do lugar onde costumo sentar-me. José obedeceu e, pondo mãos à obra, passou dois anos no palácio para elaborar esse trono. Quando ele foi colocado no lugar onde deveria ficar, perceberam que de cada lado faltavam dois palmos à medida fixada. Então o rei ficou bravo com José, que temendo a raiva do monarca, não conseguiu comer e deitou-se em jejum. O Senhor perguntou-lhe qual era a causa do seu receio e ele respondeu: - É que a obra na qual trabalhei durante dois anos está perdida. O Senhor Jesus respondeu-lhe: - Não tenhas medo e não percas a coragem. Pegue este lado do trono e eu o outro, para que possamos dar-lhe a medida exata. José fez o que havia lhe pedido o Senhor Jesus e cada um puxou para um lado. O trono obedeceu e ficou exatamente com a dimensão desejada. Os assistentes, vendo esse milagre, ficaram estupefatos e deram graças a Deus. Esse trono fora feito com uma madeira do tempo de Salomão, filho de Davi, e que era notável por seus nós, que representavam várias formas de figuras. Os Meninos Num outro dia, o Senhor Jesus foi até a praça e vendo as crianças que se haviam reunido para brincar, juntou-se a elas. Essas, tendo-o visto, esconderam-se e o Senhor Jesus foi até uma casa e perguntou às mulheres que estavam à porta, onde as crianças haviam ido. Como elas responderam que não havia nenhuma delas na casa, o Senhor Jesus disse-lhes: - Que vocês estão vendo sob este arco? Elas responderam que eram carneiros com três anos de idade e o Senhor Jesus gritou: - Saí, carneiros, e vinde em direção ao vosso pastor. Imediatamente as crianças saíram, transformadas em carneiros, e saltavam ao seu redor. As mulheres, tendo visto isso, foram tomadas de pavor e adoraram o Senhor Jesus, dizendo: - Jesus, filho de Maria, nosso Senhor, tu és verdadeiramente o bom Pastor de Israel. Tem piedade de tuas servas que estão em tua presença e que não duvidam, Senhor, que tu vieste para curar e não para perder. O Senhor respondeu que as crianças de Israel estavam entre os povos como os Etíopes. As mulheres disseram: - Senhor, conheces as coisas e nada escapa à tua infinita sabedoria. Pedimos e esperamos a tua misericórdia. Devolve a essas crianças sua antiga forma. O Senhor Jesus disse, então: - Vinde, crianças, para que possamos brincar. Imediatamente, na presença das mulheres, os carneiros retomaram a aparência de crianças. Jesus Rei No mês do Adar, Jesus reuniu as crianças e colocou-se como o seu rei. Elas haviam estendido suas roupas no chão para fazê-lo sentar-se sobre elas e haviam colocado sobre sua cabeça uma coroa de flores. Como os satélites que acompanham um rei, elas se haviam enfileirado à sua direita e à sua esquerda. Se alguém passava por lá, as crianças faziam parar à força e diziam-lhe: - Vem e adora o rei, para que obtenhas uma feliz viagem. Simão, o Cananeu Nisso chegaram alguns homens que carregavam uma criança em uma liteira. Esse menino havia ido até a montanha com seus colegas para apanhar lenha e, tendo encontrado um ninho de perdiz, pôs a mão para retirar os ovos. Uma serpente, escondida no ninho, no entanto, mordeu-o e ele chamou os companheiros para socorrê-lo. Quando chegaram, eles o encontraram estendido no chão e quase morto. Alguns familiares vieram e levaram-no à cidade. Ao chegaram ao local onde o Senhor Jesus estava sentado em seu trono como um rei, com outras crianças à sua volta, como sua corte, essas foram ao encontro dos que carregavam o moribundo e disseram-lhes: - Vinde e saudai o rei! Como eles não queriam aproximar-se por causa da tristeza que sentiam, as crianças traziam-nas à força. Quando estavam na frente do Senhor Jesus, ele perguntou-lhe por que estavam carregando aquela criança. Responderam que uma serpente a havia mordido e o Senhor Jesus disse às crianças: - Vamos juntos e matemos a serpente! Os pais da criança que estava prestes a morrer suplicaram para que os deixassem ficar, mas elas responderam: - Não ouvistes que o rei disse vamos e matemos a serpente? Devemos seguir suas ordens. Apesar da sua oposição, eles retornaram à montanha, carregando a liteira. Quando chegaram perto do ninho, o Senhor Jesus disse às crianças: - Não é aqui que se esconde a serpente? Eles responderam que sim e a serpente, chamada pelo Senhor Jesus, saiu e submeteu-se a ele. O Senhor disse-lhe: - Vai e suga todo o veneno que espalhaste nas veias dessa criança. A serpente, arrastando-se, sugou todo o veneno que ela havia inoculado e o Senhor, em seguida, amaldiçoou-a e, fulminada, morreu logo em seguida. Depois o Senhor Jesus tocou a criança com sua mão e ela foi curada. Como ela se pusesse a chorar, o Senhor Jesus disse-lhe: - Não chores, serás meu discípulo! Essa criança foi Simão de Cananéia, de quem se faz menção no Evangelho. Jesus e Tiago Num outro dia, José havia mandado seu filho Tiago para apanhar lenha e o Senhor Jesus se havia juntado a ele para ajudá-lo. Quando chegaram ao lugar onde ficava a lenha, Tiago começou a apanhá-la e eis que uma víbora mordeu-o e ele se pôs a gritar e a chorar. O Senhor Jesus, vendo-o naquele estado, aproximou-se e soprou o local da mordida. Tiago foi imediatamente curado. O Menino que Caiu e Morreu Um dia, o Senhor Jesus estava brincando com outras crianças em cima de um telhado e uma delas caiu e morreu na hora. As outras fugiram e o Senhor Jesus ficou sozinho em cima do telhado. Então os pais do morto chegaram e disseram ao Senhor Jesus: ` - Foste tu que empurraste nosso filho do alto telhado. Como ele negasse, eles repetiram mais alto: - Nosso filho morreu e eis aqui quem o matou. O Senhor Jesus respondeu: - Não me acuseis de um crime do qual não tendes nenhuma prova. Perguntemos, porém, à própria criança o que aconteceu. O Senhor Jesus desceu, colocou-se perto da cabeça do morto e disse-lhe em voz alta: - Zeinon, Zeinon, quem foi que te empurrou do alto do telhado? O morto respondeu: - Senhor, não foste tu a causa da minha queda, mas foi o terror que me fez cair. O Senhor recomendou aos presentes que prestassem atenção a essas palavras e todos eles louvaram a Deus por este milagre. O Cântaro Quebrado Maria havia mandado, um dia, o Senhor Jesus tirar água do poço. Quando ele havia cumprido a tarefa e colocava sobre a cabeça o cântaro cheio, ele partiu-se. O Senhor Jesus, tendo estendido o seu manto, levou para sua mãe a água recolhida e ela se admirou e guardou em seu coração tudo o que havia visto. Brincando com o Barro Um dia, o Senhor Jesus estava na beira do rio com outras crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. O Senhor Jesus havia feito doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de Sabbath e o filho de Hanon, o Judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes: - Como podeis, em um dia de Sabbath, fazer figuras com lama?" Ele se pôs, então, a destruir tudo. Quando o Senhor Jesus estendeu as mãos sobre os pássaros que havia moldado, eles saíram voando e cantando. Em seguida, o filho de Hanon, o Judeu, aproximou-se da poça cavada por Jesus para destruí-la, mas a água desapareceu e o Senhor Jesus disse-lhe: - Vê como está água secou? Assim será a tua vida. E a criança secou. Uma Morte Repentina Certa noite, o Senhor Jesus voltava para casa com José, quando uma criança passou correndo na sua frente e deu-lhe um golpe tão violente que o Senhor Jesus quase caiu. Ele disse a essa criança: - Assim como tu me empurraste, cai e não levantes mais. No mesmo instante, a criança caiu no chão e morreu. Jesus e o Professor Havia, em Jerusalém, um homem, chamado Zaqueu, que instruía os jovens. Ele disse a José: - José, por que não me envias Jesus para que ele aprenda as letras? José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: - Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então eu pronunciarei Beth. O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, as que tinhas desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum. O Senhor Jesus disse ao professor: - Presta atenção ao que vou te dizer! E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: - Creio que esta criança nasceu antes de Noé. Virando-se para José, acrescentou: - Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta criança sabe mais que todos os doutores. Depois disse a Maria: - Teu filho não precisa de ensinamentos. O Professor Castigado Conduziram-no, em seguida, a um professor mais sábio e assim que o viu. ordenou: - Dize Aleph! Quando o Senhor Jesus disse Aleph, o professor pediu-lhe que pronunciasse Beth. O Senhor Jesus respondeu-lhe: - Dize-me o que significa a letra Aleph e então eu pronunciarei Beth. O mestre, irritado, levantou a mão para bater nele, mas sua mão secou instantaneamente e ele morreu. Então José disse a Maria: - Daqui por diante, não devemos mais deixar o menino sair de casa, pois qualquer um que se oponha a ele é fulminado pela morte. Jesus, o Mestre Quando contava doze anos de idade, levaram Jesus a Jerusalém por ocasião da festa e, quando ele terminou, eles voltaram, mas o Senhor Jesus permaneceu no templo, em meio aos doutores, aos velhos e aos mais sábios dos filhos de Israel, que ele interrogava sobre diferentes pontos da ciência, mas também respondia-lhes as perguntas. Jesus perguntou-lhes: - De quem é filho o Messias?" Eles responderam: - Este é o filho de Davi. Jesus respondeu: - Por que então Davi, movido pelo Espírito Santo, chama-o Senhor, quando diz que o Senhor disse ao meu Senhor: senta-te à minha direita para que coloque teus inimigos aos teus pés'?" Um importante rabino interrogou-o, dizendo: - Leste os livros sagrados? O Senhor Jesus respondeu: - Eu li os livros e o que eles contêm. Dito isso, explicou-lhes as Escrituras, a lei, os preceitos, os estatutos, os mistérios que estão contidos nos livros das profecias e que a inteligência de nenhuma criatura pode compreender. E o principal entre os doutores disse: - Eu jamais vi ou ouvi tamanha instrução. Quem credes que seja essa criança? Jesus e o Astrônomo Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou. Jesus e o Médico Havia entre eles um filósofo muito sábio em medicina e ciências naturais e quando ele perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a medicina, este expôs-lhe a física, a metafísica, a hiperfísica e a hipofísica, as virtudes do corpo, os humores e seus efeitos, o número de membros e de ossos, de secreções, de artérias e de nervos, as temperaturas, calor e seco, frio e úmido e quais as suas influências, quais as atuações da alma no corpo, suas sensações e suas virtudes, a faculdade da palavra, da raiva, do desejo, sua composição e dissolução e outras coisas que a inteligência de nenhuma criatura jamais alcançou. Então o filósofo ergueu-se e adorou o Senhor Jesus, dizendo: - Senhor, daqui em diante serei teu discípulo e ter servo. Jesus é Encontrado Enquanto Jesus assim falava, Maria apareceu, junto com José, pois fazia três dias que procuravam por Jesus. Vendo-o sentado entre os doutores, interrogando-os e respondendo-lhe alternadamente, ela lhe disse: - Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos e tua ausência causou-nos muita aflição. Ele respondeu: - Por que me procuráveis? Não sabíeis que convinha que eu permanecesse na casa de meu Pai? Eles não entendiam as palavras que ele lhes dirigia. Então os doutores perguntaram a Maria se ele era seu filho e tendo ela respondido que sim, eles exclamaram: - Ó feliz Maria, que deste à luz tal criança. Ele voltou com os pais para Nazaré e ele lhes era submisso em tudo. Sua mãe conservava todas as suas palavras em seu coração e o Senhor Jesus crescia em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens. Via Oculta Ele começou desde esse dia a esconder os seus segredos e seus mistérios, até que completou trinta anos, quando seu Pai, revelando publicamente sua missão às margens do Jordão, fez soar, do alto do céu, essas palavras: - É meu filho bem-amado no qual coloquei toda minha complacência. Foi quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de uma pomba branca. Doxologia É a ele que humildemente adoramos, pois ele nos deu a existência e a vida. Ele nos fez sair das entranhas de nossas mães, tomou, por nós, o corpo de homem e nos redimiu, cobrindo-nos com sua misericórdia eterna e concedendo-nos a graça do seu amor e de sua bondade. A ele, portanto, glória, poder, louvores e domínio por todos os séculos. Que assim seja! Segundo Evangelho de Pedro A Crucificação de Cristo O Evangelho de Pedro foi descoberto no Alto Egito, sendo que o último ocorreu no ano de 1886, numa localidade chamada de Akhmin. Serapião, bispo de Antioquia (190-211), bem como Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Teodoreto de Ciro e Jerônimo faz referência ao Evangelho de Pedro, o qual pode ser datado na primeira metade do século II. Serapião chega a permitir o uso do Evangelho de Pedro, mas depois se dá conta que se trata de um texto influenciado por doutrinas heréticas de Marcião, gnosticismo e decetismo. Assim ele escreve, concluindo a sua carta apostólica aos cristãos de Rossos: Assim, digo, pudemos por meio destes manusear o livro em questão, percorrê-lo e comprovar que a maior parte do conteúdo está de acordo com a reta doutrina do Salvador, se bem que se encontrem algumas inovações que submetemos à vossa consideração. É isto que vos escreve Serapião. Capítulo 1 DENTRE OS judeus, porém, ninguém lavou as mãos; nem Herodes nem nenhum de seus juízes. E, por não quererem lavar-se, Pilatos levantou-se. 2 Então o rei Herodes mandou que se encarregassem do Senhor, dizendo-lhes: "Executai o que acabo de ordenar que façais com ele". Capítulo 2 3 José, o amigo de Pilatos e do Senhor, encontrava. se ali na ocasião. E sabendo que iam crucificá-lo, aproximou-se de Pilatos para pedir o corpo do Senhor para levá-lo à sepultura. 4 Pilatos, por sua vez, mandou um recado a Herodes e pediu-lhe o corpo de Jesus. 5 E Herodes disse: "Irmão Pilatos, mesmo que ninguém o houvesse reclamado, nós mesmo ter-lhe-íamos dado sepultura, pois já se aproxima o Sábado e está escrito na lei que o sol não deve pôr-se sobre um justiçado". E com isto, entregou-o ao povo no dia anterior ao dos Azimos, sua festa. Capítulo 3 6 E eles, segurando o Senhor, davam-lhe empurrões e diziam: "Arrastemos o Filho de Deus, já que veio cair em nossas mãos". 7 Depois vestiram-no de púrpura e fizeram com que se sentasse no tribunal, dizendo: "Julga com eqüidade, ó rei de Israel". 8 E um deles trouxe uma coroa de espinhos e colocou-a na cabeça do Senhor. 9 Alguns dos presentes., cuspiram-lhe no rosto, enquanto que outros davam-lhe bofetadas na face, e outro. ainda o feriam com um pau. E havia quem lhe batesse dizendo: "Esta é a homenagem que rendemos ao Filho de Deus". Capítulo 4 10 Depois, levaram dois ladrões e crucificaram o Senhor no meio deles. Mas ele permanecia calado como se não sentisse dor alguma. 11 E quando prepararam a cruz escreveram em cima: "Este é o rei de Israel". 12 E, depositadas as vestes diante dele, dividiram-nas em lotes e deitaram os dados sobre elas. 13 Um daqueles malfeitores, porém, repreendeu-os dizendo: "Nós sofremos assim pelas iniqüidades que fizemos; mas este, que veio para ser o Salvador dos homens, em que pode havê-los prejudicado?" 14 E indignados contra ele, ordenaram que não lhe quebrassem as pernas para que morresse entre tormentos. Capítulo 5 15 Era então meio-dia, e a escuridão tomou conta de toda a Judéia. Foram então tomados pela agitação, temendo que o sol se pusesse, pois Jesus ainda estava vivo, e a lei dizia que "o sol não deve pôr-se sobre um justiçado", 16 Então um deles disse: "Dá-lhe de beber fel com vinagre" (1). E, fazendo a mistura, deram-lhe a beberagem. 17 E cumpriram tudo, preenchendo a medida das iniqüidades acumuladas sobre suas cabeças. 18 E muitos andavam por ali servindo-se de lanternas, já que pensavam que fosse noite, e caíam por terra. 19 E o Senhor elevou sua voz, dizendo: "Força minha, força minha, tu me abandonaste". E, dizendo isto, volatilizou-se e subiu ao céu. 20 Naquele mesmo momento, o véu do templo de Jerusalém rasgou-se em duas partes. Capítulo 6 21 Então tiraram os cravos das mãos do Senhor e o estenderam no chão. E a terra inteira tremeu e um enorme pânico sobreveio. 22 Logo o sol brilhou, e comprovou-se que era a hora nona. 23 Alegraram-se, então, os judeus e entregaram o corpo a José para que lhe desse sepultura, uma vez que este havia sido testemunha de todo o bem que Jesus havia feito. 24 E, pegando o corpo do Senhor, lavou-o, envolveu-o num lençol e colocou-o em sua própria sepultura, chamada de Jardim de José. Capítulo 7 25 Então, os judeus, os anciãos e os sacerdotes perceberam o mal que haviam acarretado para si próprios e começaram a bater no peito dizendo: "Malditas as nossas iniqüidades! Eis aqui que chega o juízo e o fim de Jerusalém". 26 Eu, de minha parte, estava sumido na aflição juntamente com meus amigos, e, feridos no mais profundo da alma, mantinham-nos escondidos. Pois éramos tidos como malfeitores e como aqueles que pretendiam incendiar o templo. 27 Por todas essas coisas, jejuávamos e permanecíamos sentados, lamentando-nos e chorando noite e dia até o Sábado. Capítulo 8 28 Entretanto, reunidos entre si, os escribas, os fariseus e os anciãos ao ouvir que o povo murmurava e batia no peito dizendo: "Quando de sua morte sobrevieram sinais tão assombrosos, como dizer que não foi um justo". 29 fugiram de medo e foram ter à presença de Pilatos em tom de súplica, dizendo: 30 "Dá-nos soldados para que custodiem o sepulcro durante três dias, pois pode acontecer que seus discípulos venham, retirem o seu corpo e o povo venha a nos fazer algum mal, acreditando que ressuscitou de entre os mortos". 31 Pilatos, então, entregou-lhes Petrônio e um centurião com soldados para que custodiassem o sepulcro. E com eles foram também até o túmulo os anciãos e os escribas. 32 E, girando uma grande pedra, todos os que ali se encontravam presentes, juntamente com o centurião e os soldados, puseram-se na porta do sepulcro. 33 Além disso, gravaram sete selos e depois de armar uma tenda, puseram-se a fazer a guarda. Capítulo 9 34 E bem cedo, ao amanhecer o Sábado, uma grande multidão veio de Jerusalém e das redondezas para ver o sepulcro selado. 35 Mas durante a noite que precedia o domingo, enquanto os soldados estavam fazendo a guarda de dois a dois, uma grande voz produziu-se no céu. 36 E viram os céus abertos e dois homens que desciam, tendo à sua volta um grande resplendor, e aproximaram-se do sepulcro. 37 E aquela pedra que haviam colocado sobre a porta rolou com o seu próprio impulso e pôs-se de lado, com o que o sepulcro ficou aberto e ambos os jovens entraram. Capítulo 10 38 Então, ao verem isto, aqueles soldados despertaram o centurião e os anciãos, já que também estes encontravam-se ali fazendo a guarda. 39 E, estando eles explicando o que acabara de acontecer, viram três homens que saíam do sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um terceiro, e uma cruz que ia atrás deles, 40 E a cabeça dos dois primeiros chegava até o céu, enquanto que a daquele que era conduzido por eles ultrapassava os céus. 41 E ouviram uma voz vinda dos céus que dizia: "Pregas-te para os que dormem?" 42 E da cruz fez-se ouvir uma resposta: "Sim". Capítulo 11 43 Então eles passaram a combinar como contariam o ocorrido a Pilatos. 44 E, enquanto se encontravam ainda confabulando entre si, novamente apareceram os céus abertos e um homem desceu e entrou no sepulcro. 45 Os que estavam junto ao centurião, vendo isto, apressaram-se a ir a Pilatos ainda de noite, abandonando o sepulcro que custodiavam. E, cheios de agitação, contaram o quanto haviam visto, dizendo: "Era verdadeiramente o Filho de Deus". 46 Pilatos respondeu desta maneira: "Eu estou limpo do sangue do Filho de Deus; fostes vós que assim quisestes. 47 Depois, todos se aproximaram e lhe pediram encarecidamente que ordenasse ao centurião e aos soldados que guardassem segredo sobre o que haviam visto. 48 "Pois é preferível diziam sermos réus do maior crime na presença de Deus a cair nas mãos do povo judeu e sermos apedrejados". 49 Então, Pilatos ordenou ao centurião e aos soldados que não dissessem nada, Capítulo 12 50 Na manhã do domingo, Maria Madalena, discípula do Senhor amedrontada por causa dos judeus, pois estavam cheios de ira, não havia feito no sepulcro do Senhor o que costumavam fazer as mulheres pelos seus mortos queridos. 51 levou consigo suas amigas e foi até o sepulcro no qual havia sido depositado. 52 Temiam, porém, ser vistas pelos judeus e diziam: "Já que não nos foi possível chorar e lamentar naquele dia em que foi crucificado, façamo-lo agora pelo menos em seu sepulcro. 53 "Mas quem removerá a pedra que foi deixada à porta do sepulcro, para que possamos entrar e sentar junto a ele e fazer o que é devido? 54 "A pedra é muito grande e temos medo de que alguém nos veja. E se isto não nos for possível, ao menos joguemos na porta o que levamos em sua memória; choremos e golpearemos o peito até voltarmos para casa." Capítulo 13 55 Foram, então, e encontraram o sepulcro aberto. E nesse instante viram ali um jovem sentado no centro do túmulo, formoso e coberto de vestes alvíssimas, que lhes disse: 56 "A que vindes? A quem buscais? Porventura aquele que foi crucificado? Já ressuscitou e se foi. E se não quiserdes crer, acercai-vos e vede o lugar onde jazia. Não está, pois ressuscitou e se foi para o lugar de onde foi enviado". 57 Então as mulheres, aterrorizadas, fugiram. Capítulo 14 58 Esse era o último dia dos Azimos e muitos partiam de volta para suas casas uma vez terminada a festa. 59 E nós, os doze discípulos do Senhor, chorávamos e estávamos escondidos na aflição. E cada um, desgostoso pelo sucedido, retornou para sua casa. 60 Eu, Simão Pedro, de minha parte, e André, meu irmão, pegamos nossas redes e dirigimo-nos ao mar, indo em nossa companhia Levi o de Alfeu, a quem o Senhor... Fim